Setor da construção português critica o Governo por incentivar a vinda de empresas estrangeiras



O administrador executivo da recém-criada Fundação da Construção, Carlos Mineiro Aires, afirmou que construtores, consultores e projetistas estão “surpreendidos” com os recentes contactos do Governo com empresas de capitais turcos e chineses para participarem nos futuros investimentos em obras públicas. Embora compreenda a preocupação governamental com a capacidade das empresas nacionais para executar um investimento de 50 mil milhões de euros em projetos como o novo aeroporto, a alta velocidade e hospitais, Mineiro Aires sustenta que o Governo deveria ter dialogado primeiro com o setor nacional, que, segundo ele, “tem capacidade” e “está a ganhar músculo”. A iniciativa do Governo, que incluiu visitas de membros do executivo à Turquia e a receção de uma missão de empresários turcos em Portugal, visa, segundo o secretário de Estado Hugo Espírito Santo, a criação de parcerias com empresas internacionais para obras de grande risco.
No entanto, Mineiro Aires critica esta abordagem, argumentando que as empresas estrangeiras “não trazem nada”, praticam “dumping” e acabam por aumentar os custos e atrasar os prazos das obras.
Defende ainda que, embora as parcerias sejam comuns, a liderança dos consórcios deve ser sempre portuguesa.
Para a Fundação da Construção, o maior problema do setor é a falta de mão de obra, com um défice estimado em cerca de 50 mil operários, além de engenheiros e quadros intermédios. A solução, segundo Mineiro Aires, passa por atrair de volta os trabalhadores que emigraram durante a crise financeira, com salários atrativos, e por estruturar um fluxo migratório proveniente dos PALOP e do Brasil.
As recentes restrições à imigração são vistas com preocupação, pois podem comprometer o crescimento do país.
Outro obstáculo apontado é o código da contratação pública, descrito como um “garrote” que inibe a escolha de propostas que não sejam as mais baratas, resultando em projetos de menor qualidade e na dificuldade de as empresas pagarem melhores salários. A Fundação da Construção, criada por três ordens profissionais e 14 empresas, pretende lançar um Observatório da Construção para monitorizar o setor e colaborar com o Governo na tomada de melhores decisões, defendendo sempre a engenharia nacional.









