A Captura de 'Hulk' e a Vulnerabilidade de Portugal como Refúgio para Criminosos Brasileiros



A Polícia Judiciária (PJ) deteve em Cascais Ygor Daniel Zago, conhecido como “Hulk” e apontado como um dos líderes da organização criminosa brasileira Primeiro Comando da Capital (PCC).
A sua captura, num condomínio de luxo onde vivia discretamente com a mulher, culminou meses de buscas internacionais e foi possível através do rastreamento da sua esposa pelas autoridades brasileiras. Este caso insere-se num contexto de aumento de fugitivos brasileiros em território português.
Desde janeiro, a PJ já capturou 24 cidadãos procurados ou condenados no Brasil, seis dos quais desde agosto.
Fonte oficial da PJ garantiu que a polícia “está atenta a esse fenómeno” e mantém uma “permanente articulação com a Polícia Federal do Brasil”, embora se recuse a detalhar a dimensão das atividades do PCC por razões operacionais.
Especialistas em segurança alertam que a detenção de “Hulk” é apenas a ponta do iceberg.
Robson Souza, investigador e antigo tenente da Polícia Militar brasileira, estima que possam existir “centenas, ou até milhares, de foragidos” em Portugal, muitos já integrados com emprego e família.
A principal vulnerabilidade, segundo Souza, é a ausência de cruzamento de dados entre a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e o Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões do Brasil.
Esta falha permite que fugitivos obtenham certidões de “nada consta” e entrem legalmente no país.
O próprio investigador demonstrou ser possível emitir estes documentos para indivíduos com mandados de prisão ativos.
Para Francisco Rodrigues, presidente do OSCOT, a presença do PCC em Portugal “não é surpreendente” e tende a aumentar, devido à facilidade de integração proporcionada pela língua e cultura comuns.
Considera que o país funciona como uma “porta de entrada” e base para a instalação de “postos de comando” europeus. A eurodeputada Ana Miguel Pedro corrobora a ideia de uma evolução do crime organizado, agora mais tecnológico e fluido, defendendo uma cooperação internacional mais eficaz, com partilha de informações “em tempo real” e equipas conjuntas permanentes. A cooperação entre a Europol e a Polícia Federal brasileira é vista como um passo positivo, mas a falta de sincronização de bases de dados policiais continua a ser o principal obstáculo a uma resposta efetiva.











