Crise da Habitação na Península Ibérica Acentua Desigualdades e Pressiona Novas Gerações



A degradação do acesso à habitação e à saúde está a aprofundar as desigualdades sociais e intergeracionais em Portugal e Espanha. Em Portugal, o Índice de Justiça Intergeracional (IJI) sofreu uma queda de 0,50 em 2021 para 0,43 em 2023, num retrocesso impulsionado principalmente pelas dificuldades nestes dois setores. A situação da habitação é particularmente grave, com o indicador a descer de 0,46 em 2019 para 0,23 em 2023.
Este declínio reflete a crescente dificuldade de acesso a uma casa, a sobrecarga das despesas no orçamento familiar e o aumento do número de jovens até aos 35 anos que permanecem a viver com os pais.
Segundo Paulo Trigo Pereira, coordenador do estudo sobre o IJI, existe um “certo fracasso nas políticas de habitação” em Portugal, que não estão a responder à gravidade do problema.
As soluções propostas incluem o aumento da oferta, o fim dos vistos Gold, a restrição ao Alojamento Local e a dinamização do arrendamento de longa duração. A par da habitação, o setor da saúde também se degradou, com o índice a cair de 0,57 para 0,35, devido à diminuição do acesso aos cuidados e à redução do investimento em prevenção, o que se reflete num aumento do consumo de ansiolíticos e antidepressivos entre as novas gerações.
Em Espanha, o cenário é igualmente preocupante.
O número de pessoas sem-abrigo aumentou 25% na última década, e estima-se que o número real seja superior aos 28.552 oficialmente registados.
A escassez de habitação social agrava o problema, não sendo suficiente para a procura existente.
A organização Provivienda alerta que quatro em cada dez agregados familiares empobrecem após o pagamento da renda e 25,8% da população está em risco de pobreza.
A falta de dados fiáveis dificulta a criação de políticas públicas eficazes.
A crise habitacional em ambos os países transcende a falta de um teto, fragilizando a coesão social, fragmentando as cidades e afetando gravemente o desenvolvimento das crianças que vivem em condições precárias. Os especialistas defendem a necessidade de políticas de Estado estruturais e duradouras, que tratem a habitação como um direito social e um investimento no futuro coletivo, exigindo um consenso alargado entre o setor público, privado e a sociedade civil.













