Myanmar realiza as primeiras eleições gerais desde o golpe militar sob fortes críticas



Myanmar realiza este domingo as primeiras eleições gerais desde o golpe militar de fevereiro de 2021, que depôs o governo eleito de Aung San Suu Kyi. A junta militar no poder apresenta o escrutínio como um passo em direção à reconciliação nacional, mas críticos e grupos de direitos humanos consideram que as eleições não serão livres nem justas, servindo apenas para perpetuar o controlo do exército sob uma fachada de governo civil. O processo eleitoral decorre em plena guerra civil, que opõe o exército a grupos guerrilheiros étnicos e forças de resistência.
Devido aos combates, a votação está a ser realizada em fases e será impossível em 65 dos 330 municípios do país.
A junta impôs severas restrições à atividade política através de uma nova lei eleitoral que proíbe qualquer crítica pública às eleições, resultando na acusação de mais de 200 pessoas nos últimos meses por distribuírem panfletos ou por atividades online. A credibilidade das eleições é amplamente questionada pela ausência de uma oposição real. A Liga Nacional para a Democracia (LND) de Aung San Suu Kyi, que venceu as eleições de 2020, foi dissolvida e a sua líder, de 80 anos, cumpre uma pena de 27 anos de prisão.
Outros partidos boicotaram a votação ou recusaram-se a participar em condições que consideram injustas.
Segundo analistas como Richard Horsey, do International Crisis Group, a estratégia dos militares passa por garantir a vitória do seu partido aliado, o Partido da União, Solidariedade e Desenvolvimento (USDP), para legitimar o seu poder.
O conflito desde o golpe militar teve um custo humano devastador.
Segundo a Associação de Assistência a Presos Políticos, mais de 22.000 pessoas estão detidas por motivos políticos, mais de 7.600 civis foram mortos pelas forças de segurança e há mais de 3,6 milhões de deslocados internos.
O gabinete dos Direitos Humanos da ONU denunciou um clima de "violência, repressão e intimidação" antes da votação.
Analistas preveem uma escalada do conflito após as eleições, com a oposição a procurar demonstrar que a junta continua a carecer de legitimidade popular.
















