Três grandes, três caminhos: assim se prepararam Benfica, Sporting e FC Porto para atacar 2025/26
A pré-temporada dos três “grandes” do futebol português trouxe inúmeras novidades. Todos os clubes apresentaram mudanças profundas – desde reforços sonantes a novas lideranças técnicas – e disputaram jogos de preparação para afinar estratégias. Em comum, Benfica, Sporting e FC Porto iniciam 2025/26 com ambição redobrada: os “leões” tentam o tricampeonato, as “águias” procuram recuperar o título e os “dragões” embarcam num novo ciclo sob comando estrangeiro.Segue-se um balanço clube a clube, cobrindo resultados dos amigáveis, entradas e saídas de jogadores, condicionantes físicas, alterações táticas, destaques individuais e declarações marcantes.Benfica: Reforços de Peso e Arranque PromissorO Benfica iniciou a pré-época de forma tardia, devido à participação até ao fim de junho no Mundial de Clubes. Com apenas dois jogos amigáveis realizados, a preparação foi curta – 14 dias de trabalho e 2 particulares, como lamentou o técnico Bruno Lage.Ainda assim, os encarnados mostraram eficácia: venceram o Estoril por 3-0 (23 de julho) e o Fenerbahçe por 3-2 (26 de julho). Neste último jogo – a Eusébio Cup, no Estádio da Luz – destacou-se o jovem avançado Henrique Araújo, autor do golo decisivo nos descontos, dando a volta a um marcador que esteve desfavorável. Foi um teste exigente, mas o Benfica saiu vitorioso e sem lesões adicionais, concluindo a pré-época com a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira a 31 de julho. Frente ao Sporting, um golo do reforço Vangelis Pavlidis selou o triunfo por 1-0 e garantiu o primeiro troféu da época.Reforços e saídas: O plantel encarnado perdeu algumas figuras de relevo e investiu fortemente no mercado para colmatar essas saídas. O criativo Orkun Kökçü, contratação mais cara da história do clube em 2023, deixou a Luz rumo ao Besiktas após 98 jogos pelos encarnados.Também Ángel Di María, que regressara ao Benfica em 2024 para uma segunda passagem, despediu-se do clube e voltou à Argentina (Rosario Central) aos 37 anos.O extremo Bruma, contratado ao SC Braga em janeiro, sofreu uma lesão gravíssima – rotura total do tendão de Aquiles – durante o amigável com o Fenerbahçe e ficará afastado de competição até 2026/27. Também o jovem médio Nuno Félix (21 anos) contraiu uma rotura de ligamentos no joelho neste período e enfrenta longa paragem.Apesar destes contratempos, o Benfica reforçou-se em todas as linhas: chegaram o avançado croata Franjo Ivanović (21 anos, ex-Union St. Gilloise, contratado por €22,8 milhões) e dois laterais promissores – Amar Dedić (22 anos, lateral-direito bósnio ex-Salzburgo) e Rafael Obrador (21 anos, lateral-esquerdo espanhol emprestado pelo Real Madrid ao Deportivo em 2024/25). Para o meio-campo, destaque para o investimento de €27 milhões no médio Richard Ríos (colombiano, ex-Palmeiras), que já revelou qualidades de liderança e garra em campo, e para o trinco argentino Enzo Barrenechea (emprestado pela Juventus).No total, são pelo menos quatro caras novas integradas no plantel principal, além de vários jovens de volta após empréstimo – casos de Henrique Araújo (Arouca) e Casper Tengstedt (Verona). Com este elenco renovado, Bruno Lage enfatizou a criação de “competitividade interna e soluções” em todas as posições.Destaques da pré-época: Mesmo com poucos jogos de ensaio, houve nomes em evidência nas águias. Henrique Araújo, de volta após rodar noutros clubes, agarrou a oportunidade ao apontar um golo e uma assistência nos amigáveis, incluindo o tento da vitória frente ao Fenerbahçe. O avançado grego Pavlidis confirmou as credenciais ao marcar na Supertaça (foi eleito Homem do Jogo na final) e tem mostrado faro de golo. No meio-campo, o jovem colombiano Richard Ríos impressionou pela capacidade de recuperação de bola e personalidade – Lage sorriu ao vê-lo disputar um lance “de cabeça no chão” pela posse, simbolizando a raça pedida. Também o extremo Andreas Schjelderup (20 anos, norueguês) surgiu em bom plano nesta pré-época, depois de uma época anterior discreta: participou ativamente na goleada ao Estoril e tem sido opção frequente, assim como Tiago Gouveia, extremo da formação que marcou presença nos dois jogos.Sporting: Projeto consolidado sob Rui Borges e reforços para atacar o tricampeonatoO Sporting Clube de Portugal encarou a pré-época como bicampeão nacional, dando continuidade ao trabalho de Rui Borges, que assumiu o comando técnico em novembro de 2024, após uma breve passagem interina de João Pereira, na sequência da saída de Rúben Amorim para o Manchester United.Com Borges no leme, os leões planearam uma preparação intensa e recheada de jogos. Entre 5 e 25 de julho, o Sporting realizou sete amigáveis, optando inclusive por duelos duplos no mesmo dia para dar ritmo a todo o plantel.Os números confirmam essa rodagem: vitória sobre a equipa B (5-2), triunfo tangencial sobre o Torreense (1-0) e empate com o Nacional (1-1) a 11 de julho; novo duplo confronto a 16 de julho, com empate frente ao Portimonense (0-0) e derrota com o Celtic (0-2). Já no estágio algarvio, os leões empataram 1-1 com o Farense e venceram os ingleses do Sunderland por 1-0 (21 de julho). Fecharam a pré-temporada a 25/7 com um bom teste frente ao Villarreal, vencendo por 1-0. Nestes jogos, o técnico aproveitou para observar diversas soluções: Francisco Trincão sobressaiu ao marcar o golo da vitória contra o Sunderland, enquanto jovens como Geny Catamo, Rodrigo Ribeiro e Youssef Chermiti (até então na equipa sub-23) tiveram minutos para se mostrarem.A consistência defensiva foi um ponto positivo – sofreram poucos golos – embora a equipa tenha evidenciado alguma falta de eficácia ofensiva em certos encontros, algo que o treinador reconheceu: “temos de trabalhar para sermos mais eficazes e fazer mais golos".O grande teste chegou na Supertaça de 31 de julho, frente ao Benfica: apesar da derrota por 0-1, Rui Borges elogiou a exibição leonina, afirmando que foram “claramente superiores” ao rival durante a partida.De facto, o Sporting dominou largos períodos, pecando apenas na finalização – um cenário que o técnico acredita não abalar a confiança: “não belisca nada… somos melhores e continuamos a ser os melhores” garantiu, projetando uma época feliz se mantiverem aquele nível.FC Porto: Revolução no Dragão sob Farioli e renovação do plantelO Futebol Clube do Porto enfrentou a pré-temporada 2025/26 como um período de mudança profunda. Após um final de época atribulado em 2024/25, os dragões disseram adeus ao ciclo de Sérgio Conceição (com passagens fugazes de Vítor Bruno e Martín Anselmi) e apostaram num treinador estrangeiro: o italiano Francesco Farioli, de 34 anos, ex-técnico do Nice e do Ajax.Farioli foi apresentado a 7 de julho e teve pouco mais de um mês para moldar a equipa ao seu estilo. A pré-época portista incluiu menos jogos que a dos rivais – apenas três amigáveis oficiais – mas de crescente exigência. A 19 de julho, no Olival, o Porto goleou o Trofense (Liga 3) por 4-0, num treino de conjunto para aquecer motores. O primeiro teste a sério ocorreu a 27 de julho, com a receção aos holandeses do Twente no Estádio do Dragão. Num jogo marcado por momentos quentes, os portistas venceram 2-1 de virada. Após um início sem golos e com confusão (expulsões diretas de Gabri Veiga e Naci Ünüvar aos 43’, por agressões mútuas, a segunda parte viu o Twente adiantar-se no marcador. Farioli lançou então jovens do banco e colheu frutos: o avançado Samu empatou de cabeça aos 65’ e nos instantes finais William Gomes selou o triunfo azul-e-branco de penálti. Esse jogo serviu também de apresentação aos adeptos dos muitos reforços portistas: cinco deles foram titulares logo de início.Finalmente, a 3 de agosto, o Porto realizou o jogo de apresentação oficial frente a um adversário de peso, o Atlético de Madrid. Perante mais de 45 mil adeptos no Dragão, os dragões brilharam ao vencer os colchoneros por 1-0. O golo solitário surgiu em cima do intervalo (45’+1) pelos pés do jovem Victor Froholdt, que combinou com Pepê e bateu Oblak com um remate cruzado.Esta vitória sobre um oponente de topo mundial deixou uma excelente imagem e fechou a pré-época portista em nota alta – com direito a volta olímpica de jogadores e técnico para agradecer o apoio do público.Em termos globais, apesar da natural falta de entrosamento inicial, o Porto de Farioli deu sinais animadores: três vitórias em três jogos particulares, 7 golos marcados e apenas 1 sofrido, incluindo a “taça moral” ganha frente ao Atlético.Em análise conjunta, percebe-se que as três equipas seguiram estratégias distintas na pré-temporada. O Sporting, campeão em título, optou pela continuidade moderada: muitos jogos de preparação para dar ritmo, poucas contratações mas bem identificadas (reforçando posições carenciadas), e manutenção da estrutura base. Os leões foram quem mais jogou em julho e quem arrancou mais cedo os trabalhos (iniciaram a 1/7, duas semanas antes do Benfica), o que se traduziu em índices físicos superiores neste período – notou-se, por exemplo, na Supertaça, o Sporting mais “solto” em campo durante boa parte do jogo.O Benfica, vice-campeão, teve a preparação mais curta devido aos compromissos de fim de época anterior (Mundial de Clubes e Taça de Portugal). Bruno Lage lamentou a falta de tempo, mas os encarnados focaram-se na qualidade e não quantidade de amigáveis, privilegiando a integração dos reforços caros e a recuperação dos jogadores nucleares. Acabaram por fazer menos jogos (2 particulares, contra 7 do Sporting e 3 do Porto), mas chegaram à Supertaça em crescendo e venceram, o que dá um impulso anímico importante.A bola vai rolar “a doer” e a expectativa é elevada – afinal, se a pré-época foi animada, a temporada promete ainda mais emoções no futebol português.