Briefing: Crise no Médio Oriente

A situação humanitária em Gaza deteriorou-se para uma fome severa, confirmada por organismos internacionais e até pelo Presidente dos EUA, resultando em numerosas mortes por subnutrição. Apesar dos esforços de ajuda internacional e das "pausas táticas" de Israel, a assistência é insuficiente e a sua distribuição perigosa, enquanto Israel e o Hamas trocam acusações sobre a responsabilidade pela crise.

O Reino Unido e a França anunciaram a intenção de reconhecer o Estado da Palestina em setembro, condicionando a ação a um cessar-fogo e a um compromisso de paz por parte de Israel. Esta mudança na diplomacia europeia aumenta a pressão sobre Israel, que rejeita veementemente a solução de dois Estados, enquanto outros países como Portugal se alinham para uma possível ação conjunta.

Israel mantém uma postura firme contra a solução de dois Estados, afirmando que não cederá à pressão internacional, o que tem gerado atritos diplomáticos significativos. A proibição de entrada de ministros israelitas pelos Países Baixos e a proposta de suspensão de Israel de um programa de investigação da UE são exemplos da crescente tensão entre Israel e os seus parceiros europeus.

Uma conferência na ONU para revitalizar a solução de dois Estados, embora boicotada por Israel e pelos EUA, evidenciou um forte consenso internacional pela criação de um Estado palestiniano. A iniciativa serviu de plataforma para a Autoridade Palestiniana reafirmar os seus compromissos com a paz, incluindo um apelo ao desarmamento do Hamas, sendo vista por países como Portugal como um "ponto de viragem" diplomático.

O assassinato do ativista palestiniano Awdah Hathaleen por um colono israelita na Cisjordânia destacou a escalada da violência na região. O incidente provocou uma forte reação internacional, com a França a classificar a violência dos colonos como "terrorismo", aumentando a pressão para que Israel combata a impunidade e proteja a população palestiniana.

As negociações para um cessar-fogo em Gaza estagnaram, com os EUA a culparem o Hamas pela falta de acordo e o movimento islamita a transferir a sua base de negociação do Qatar para a Turquia. Este fracasso prolonga o conflito, com ambas as partes a manterem posições firmes e a trocarem acusações sobre a responsabilidade pelo impasse.

O conflito em Gaza atingiu um novo e sombrio marco, com o número de palestinianos mortos a ultrapassar os 60.000. Este balanço reflete a intensidade da retaliação israelita, que resultou também na destruição generalizada de infraestruturas e na deslocação forçada de quase toda a população do enclave.

Num desenvolvimento marcante, duas importantes ONGs israelitas acusaram publicamente Israel de cometer genocídio em Gaza, alegando um ataque sistemático à vida palestiniana. Esta denúncia interna, sem precedentes, reforça as acusações internacionais e intensifica o escrutínio sobre a conduta das forças israelitas no conflito.

Em resposta à crise de fome, Israel implementou "pausas táticas" e permitiu a entrada limitada de ajuda humanitária, complementada por lançamentos aéreos de vários países. No entanto, agências humanitárias consideram estas medidas largamente insuficientes para mitigar a catástrofe, descrevendo a ajuda como uma "gota no oceano" face às necessidades massivas da população de Gaza.

A rivalidade entre Israel e o Irão continua a manifestar-se através de acusações de conspiração para mudança de regime por parte de Teerão e de ataques de mísseis por parte de grupos alinhados com o Irão, como os Huthis. Esta dinâmica de conflito indireto mantém a região sob elevada tensão, com o risco constante de uma escalada militar direta.