Briefing: Crise na habitação

O segundo trimestre de 2025 foi marcado por uma subida recorde e histórica nos preços da habitação em Portugal, impulsionada por uma procura robusta que continua a superar a oferta disponível.

O volume e o valor das transações também cresceram significativamente, confirmando o aquecimento do mercado imobiliário.

A oferta de habitação para venda em Portugal diminuiu drasticamente, com uma quebra nacional de 26% desde o pico de 2020. A escassez é mais acentuada em distritos como Leiria e Coimbra e nas principais capitais de distrito, o que intensifica a pressão sobre os preços e agrava a crise no acesso à habitação.

O recurso ao crédito à habitação fez disparar o endividamento das famílias portuguesas para um novo máximo dos últimos 17 anos.

Os dados do Banco de Portugal mostram uma aceleração contínua da dívida dos particulares, refletindo a crescente dificuldade em aceder à habitação sem financiamento bancário.

A habitação é um tema incontornável e prioritário nas campanhas autárquicas por todo o país, com candidatos de diferentes forças políticas a apresentarem ambiciosos planos de construção e reabilitação.

As propostas variam entre a aposta na habitação pública, incentivos a cooperativas e parcerias com privados, evidenciando a urgência política em responder a uma das maiores preocupações dos cidadãos.

O custo do alojamento tornou-se o maior encargo para os estudantes universitários deslocados, superando largamente o valor das propinas.

A escassez de oferta pública e os preços elevados no mercado privado criam uma crise que afeta a equidade no acesso ao ensino superior, sendo as respostas atuais, como novas residências, insuficientes para a dimensão do problema.

O investimento estrangeiro no imobiliário português está em clara retração, com uma queda de 14,5% nas compras no segundo trimestre de 2025, atingindo o peso mais baixo em quatro anos. Em contrapartida, a procura por parte de residentes em Portugal aumentou de forma expressiva, sinalizando uma mudança no perfil do comprador.

A crescente assimetria entre um litoral sobrepovoado e um interior em declínio demográfico agrava a crise habitacional em Portugal.

Especialistas criticam a falta de políticas articuladas para fixar população e sublinham que a habitação acessível é um fator crucial para reverter o despovoamento e promover um desenvolvimento territorial mais equilibrado.

Face à elevada procura, o Governo aumentou a dotação da garantia pública para a compra de casa por jovens para 1.550 milhões de euros.

A medida, que facilita o financiamento a 100%, já apoiou mais de 13 mil contratos este ano, demonstrando ser um instrumento crucial para o acesso à primeira habitação.

A DECO PROteste adverte que o Programa E-Lar, destinado a apoiar a transição energética, pode ter o efeito contrário ao pretendido, aumentando os custos com energia para as famílias.

As críticas centram-se na exclusão de tecnologias eficientes e na promoção de soluções que, segundo a associação, podem agravar as despesas anuais em mais de 360 euros.

A volatilidade das taxas Euribor continua a impactar diretamente o custo do crédito à habitação em Portugal.

Com a taxa a seis meses, a mais utilizada, a registar uma subida, as famílias enfrentam a perspetiva de prestações mensais elevadas e a incerteza sobre futuras flutuações no mercado.