Briefing: Tarifas e guerra comercial

A imposição de tarifas médias de 20,1% pelos EUA marca um regresso a políticas protecionistas históricas, com o objetivo de aumentar a receita e proteger a indústria nacional.

No entanto, a medida já está a gerar consequências económicas negativas a nível interno e global, levantando sérias preocupações sobre inflação, crescimento económico e estabilidade comercial.

A antecipação das novas tarifas dos EUA provocou uma queda de quase 40% nas exportações portuguesas para aquele mercado em junho, liderada pelo setor químico.

Este recuo evidencia a sensibilidade do comércio nacional às políticas protecionistas e agrava o défice da balança comercial, criando um cenário de incerteza para as empresas exportadoras.

Confrontada com uma tarifa de 50% que inviabiliza as suas exportações para o seu principal mercado, a fabricante de armas Taurus decidiu transferir parte da sua produção do Brasil para os Estados Unidos. A medida sublinha como as políticas tarifárias estão a forçar as empresas a reconfigurar as suas cadeias de produção globais para manterem a competitividade.

A imposição de tarifas punitivas pelos EUA, justificadas pela compra de petróleo russo pela Índia, levou grandes retalhistas americanos a suspenderem as importações de têxteis indianos. A medida, vista pela Índia como uma tática de pressão negocial, coloca a sua indústria em desvantagem competitiva e ameaça causar perdas económicas substanciais.

A nova tarifa de 100% sobre semicondutores importados é uma medida protecionista agressiva dos EUA para repatriar a produção de chips.

No entanto, as isenções para empresas que investem no país, como a Apple e a TSMC, transformam a medida numa ferramenta estratégica que recompensa aliados e penaliza concorrentes, redesenhando o mapa global da indústria tecnológica.

Apesar de um acordo ter fixado as tarifas dos EUA sobre produtos da UE em 15%, evitando um cenário pior, a estabilidade comercial permanece frágil. A ameaça de Donald Trump de aumentar as taxas para 35% se não houver um investimento europeu massivo nos EUA introduz um elemento de incerteza, enquanto a UE suspende as suas contramedidas e os governos nacionais avaliam os impactos.

As tarifas norte-americanas provocaram uma quebra significativa nos lucros da Toyota e da Honda, com quedas de 37% e 50%, respetivamente, no primeiro trimestre fiscal.

O impacto financeiro direto das taxas aduaneiras evidencia a vulnerabilidade das fabricantes japonesas à guerra comercial, forçando-as a rever em baixa as suas previsões anuais.

O Japão detetou um erro na aplicação das novas tarifas por parte dos EUA, que adicionaram 15% em vez de fixarem essa taxa.

Após negociações urgentes, Washington admitiu a falha e comprometeu-se a corrigir a medida e a reembolsar os valores cobrados a mais, evitando uma escalada na tensão comercial.

O Brasil recorreu à OMC para contestar a tarifa de 50% imposta pelos EUA, que considera uma violação das regras do comércio internacional e uma ferramenta de pressão política. A medida já está a causar graves prejuízos ao setor do calçado, que prevê perdas massivas de empregos, enquanto o governo brasileiro procura uma solução negociada, mas sem ceder em questões de soberania.

A decisão dos EUA de impor tarifas sobre as barras de ouro suíças marca uma nova fase na guerra comercial, afetando um ativo de refúgio e penalizando um dos maiores centros de refinação do mundo. A medida provocou uma subida recorde nos preços do ouro e intensificou a pressão sobre a Suíça para negociar um acordo comercial favorável com Washington.

A ameaça de tarifas até 250% sobre produtos farmacêuticos representa uma escalada significativa na política comercial de Trump, visando forçar a produção local.

A medida coloca em risco um setor vital para as exportações portuguesas para os EUA e aumenta a incerteza nas relações comerciais transatlânticas, apesar do recente acordo com a UE.