Briefing: Crise humanitária em Gaza

A aprovação de uma força internacional e de um conselho de transição pela ONU assinala um esforço diplomático crucial para estabilizar Gaza no pós-guerra. No entanto, a abstenção da Rússia e os desafios de implementação no terreno sublinham os obstáculos geopolíticos e práticos que esta iniciativa enfrentará.

As chuvas torrenciais agravaram a crise humanitária em Gaza, com centenas de milhares de deslocados a enfrentarem condições de vida insustentáveis. Os apelos urgentes por abrigos e ajuda destacam a insuficiência da resposta internacional e as contínuas restrições à entrada de auxílio no enclave.

A guerra em Gaza provocou uma escalada de violência dramática na Cisjordânia, com um aumento acentuado de mortes de ambos os lados e um número recorde de ataques de colonos. Apesar das promessas do governo israelita de intervir, organizações de direitos humanos denunciam uma impunidade sistémica que alimenta o ciclo de violência.

A decisão do governo israelita de criar uma comissão ministerial, em vez de um inquérito estatal independente, para investigar as falhas de 7 de outubro, foi recebida com fortes críticas da oposição, que a considera uma tentativa de controlar a narrativa e evitar responsabilidades políticas.

O cessar-fogo de 10 de outubro permitiu avanços significativos, como a troca de prisioneiros e a entrada de alguma ajuda humanitária, servindo de base para a diplomacia internacional. Contudo, a sua implementação é parcial e a negociação das fases seguintes, cruciais para a estabilidade a longo prazo de Gaza, permanece um desafio complexo.

A fronteira entre Israel e o Líbano é palco de uma escalada militar contínua, com o Hezbollah e as forças israelitas a trocarem ataques diários. Incidentes envolvendo as forças da ONU e a construção de barreiras por Israel aumentam a tensão, elevando o risco de um conflito mais vasto na região.

As declarações e propostas legislativas de ministros da extrema-direita israelita, como Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, revelam uma agenda política radical que defende a violência estatal e a discriminação legal contra os palestinianos, minando perspetivas de paz e violando o direito internacional.

Denúncias credíveis da ONU e de organizações de direitos humanos indicam que a tortura e os maus-tratos, incluindo violência sexual, se tornaram uma prática sistemática e generalizada contra detidos palestinianos desde outubro de 2023, num clima de total impunidade.

Com um número de mortos superior a 69.000 e a destruição generalizada de Gaza, a ofensiva israelita resultou em acusações formais de genocídio e crimes de guerra por parte de organismos da ONU e do Tribunal Penal Internacional.

A crise humanitária atingiu níveis catastróficos, com a fome a ser declarada oficialmente no enclave.

Através de contactos diretos com Israel e de manobras estratégicas na ONU, a Rússia reafirma o seu papel como um ator-chave no Médio Oriente.

A sua abordagem equilibra o diálogo pragmático com a competição geopolítica com os Estados Unidos, procurando influenciar a resolução do conflito em Gaza e as dinâmicas regionais.