Briefing: Crise humanitária em Gaza

A declaração oficial de fome em Gaza pela ONU expôs uma profunda divisão na comunidade internacional.

Enquanto a maioria das nações e agências humanitárias validam a crise catastrófica, Israel e os Estados Unidos contestam veementemente as conclusões, atribuindo a situação ao Hamas e a falhas metodológicas do relatório.

O ataque ao Hospital Nasser, que vitimou civis e um grupo de jornalistas, intensificou o escrutínio internacional sobre as táticas militares de Israel. Apesar das justificações de Israel e do anúncio de uma investigação, o incidente reforçou as acusações de desrespeito pelo direito internacional humanitário e de ataques deliberados contra a imprensa.

A decisão de Israel de avançar com a ocupação da Cidade de Gaza intensificou drasticamente o conflito, não só no terreno, mas também a nível regional. A ameaça de uma nova onda de deslocação forçada de civis levou o Egito a uma mobilização militar sem precedentes na fronteira, sinalizando o risco de uma escalada mais ampla.

As discussões sobre o futuro de Gaza, lideradas pelos EUA, estão a decorrer sem a participação palestiniana, revelando planos divergentes que vão desde a instalação de uma administração civil até propostas radicais de redesenvolvimento. Esta exclusão mina a legitimidade de qualquer plano futuro e reflete a falta de consenso sobre uma solução política duradoura.

Apesar de uma proposta de cessar-fogo viável e de uma forte mobilização da sociedade civil em Israel a favor de um acordo, o governo de Netanyahu permanece dividido e hesitante.

A sua dupla abordagem, negociando e escalando o conflito ao mesmo tempo, estagnou o progresso diplomático e prolonga a guerra e o cativeiro dos reféns.

Israel é acusado de bloquear sistematicamente entre 30% a 40% dos comboios de ajuda diários provenientes do Egito, utilizando vários pretextos para rejeitar a carga. Esta prática, especialmente a recusa de combustível, está a sufocar a resposta humanitária e a agravar a fome na Faixa de Gaza.

Ao reter mais de dois mil milhões de dólares em receitas fiscais devidas à Autoridade Palestiniana, em violação dos Acordos de Oslo, Israel está a provocar uma grave crise financeira que, segundo a ONU, ameaça o colapso das instituições palestinianas na Cisjordânia e agrava a instabilidade na região.

A ONU levantou graves alegações de desaparecimentos forçados de civis em pontos de distribuição de ajuda em Rafah, implicando diretamente o exército israelita. A fundação responsável pelos locais nega as acusações, mas o incidente destaca a extrema perigosidade e controvérsia em torno da distribuição de ajuda humanitária em Gaza.

Agências como a UNICEF e o PAM alertam para uma aceleração catastrófica da subnutrição infantil em Gaza, com milhares de crianças a sofrerem consequências físicas e neurológicas graves.

Os relatos do terreno pintam um quadro de sofrimento extremo, atribuído diretamente à falta de acesso a ajuda humanitária.

Uma investigação jornalística concluiu que a vasta maioria das vítimas mortais na ofensiva de Israel em Gaza, pelo menos 83%, são civis.

Este dado estatístico corrobora as preocupações internacionais sobre o impacto desproporcional do conflito na população civil e intensifica os apelos por responsabilização e pelo fim das hostilidades.