Briefing: Crise na habitação

A elevada procura por habitação em Portugal, tanto no mercado geral como no de luxo, continua a impulsionar os preços, especialmente nas áreas metropolitanas. A liderança de concelhos periféricos como a Amadora no ranking de procura e a ascensão da Comporta no segmento de luxo sublinham a complexidade e a pressão existentes no mercado imobiliário nacional.

Os elevados custos do arrendamento, especialmente em Lisboa e no Porto, comprometem a capacidade de poupança e a estabilidade financeira de muitas famílias portuguesas. A desproporção entre os salários e o preço da habitação sublinha uma crise de acessibilidade que afeta a qualidade de vida e o futuro de uma parte significativa da população.

O Governo português continua a apostar em programas de apoio direto para combater a crise da habitação, como o Apoio Extraordinário à Renda e o Porta 65 Jovem.

Para a população idosa, existem medidas como o PCHI, que visam melhorar as condições de habitabilidade e garantir o acesso a uma morada digna, refletindo uma abordagem multifacetada para os diferentes grupos afetados.

A suspensão de novas licenças de Alojamento Local em Lisboa foi prolongada, enquanto a ALEP apela a uma regulamentação baseada em dados atualizados, argumentando que o número real de alojamentos ativos é significativamente inferior ao registado.

O setor demonstra resiliência económica, mas enfrenta um futuro de incerteza regulatória no debate sobre o seu impacto na crise da habitação.

O aumento de 4,8% nos custos de construção de nova habitação em setembro, impulsionado pela subida de 8,8% na mão de obra, reflete a contínua pressão inflacionista no setor. Embora alguns materiais tenham registado descidas de preço, a tendência geral de subida dos custos mantém-se, num contexto europeu de estabilização e recuperação gradual da atividade de construção.

O mercado imobiliário de luxo em Portugal, impulsionado pela forte procura internacional, regista preços muito acima da média nacional. A consolidação da Comporta como um destino de luxo global e o elevado poder de compra dos investidores estrangeiros, especialmente norte-americanos, continuam a aquecer este segmento específico do mercado.

A Web Summit continua a exercer uma forte pressão sobre o mercado de alojamento em Lisboa, com preços elevados e elevada ocupação, embora de forma mais concentrada nos dias do evento. A sobrecarga das infraestruturas, evidenciada pelo desvio de voos privados, e o debate sobre a responsabilidade pela escalada de preços entre hotelaria e alojamento local, marcam a edição deste ano.

O Plano de Recuperação e Resiliência está a financiar a requalificação de centenas de escolas públicas e a criação de novas infraestruturas sociais, como creches em zonas do interior.

Estes investimentos visam modernizar os edifícios, melhorar as condições de ensino e responder a carências locais, utilizando os fundos europeus para reforçar a coesão territorial.

A crise da habitação é um tema recorrente e central no discurso político da oposição em Portugal, como demonstram as críticas da líder da Iniciativa Liberal.

O assunto é utilizado para evidenciar as dificuldades económicas das famílias e para questionar a capacidade de resposta do Governo, transformando-se numa importante arma de arremesso no debate partidário.

O setor imobiliário português vive um período de forte dinamismo, com um crescimento recorde de 23% na criação de novas empresas e movimentos de consolidação no mercado de mediação, como a aquisição da PrimeBiz pela iad. Estes indicadores demonstram a confiança dos investidores e a contínua expansão do setor, apesar do contexto de crise no acesso à habitação.