Briefing: Crise humanitária em Gaza

A mobilização de reservistas para a ocupação da Cidade de Gaza assinala um aprofundamento do conflito, com Israel a apostar numa solução militar de longo prazo. Esta estratégia agrava a crise humanitária, aumenta o risco de um elevado número de vítimas civis e intensifica a pressão sobre o governo de Netanyahu, tanto a nível interno como internacional.

A fome em Gaza, oficialmente reconhecida pela ONU e qualificada como crime de guerra pela OMS, resulta diretamente do bloqueio à ajuda humanitária imposto por Israel.

Esta crise tem consequências devastadoras e irreversíveis para a população, especialmente para as crianças, e representa uma das mais graves falhas humanitárias do conflito.

A demolição sistemática de edifícios altos na Cidade de Gaza é uma tática central da nova fase da ofensiva israelita. Embora justificada por Israel como necessária para fins militares, é vista por organizações internacionais e pelo Hamas como uma forma de punição coletiva que acelera a destruição do enclave e o deslocamento da sua população.

As ordens de evacuação israelitas, apresentadas como uma medida para salvaguardar civis, são vistas por atores regionais e pelo Hamas como uma estratégia para o deslocamento permanente da população de Gaza. A forte oposição do Egito, que considera esta possibilidade uma “linha vermelha”, eleva as tensões e evidencia os riscos de uma desestabilização regional mais ampla.

Com mais de 64.000 mortos confirmados, a ofensiva israelita em Gaza representa um dos conflitos mais mortíferos do século XXI para a população civil.

Este número, continuamente atualizado, serve como um indicador gritante da devastação humana e é um ponto central nas discussões sobre a legalidade e a moralidade das operações militares de Israel.

A convergência de acusações de genocídio por parte de uma comissária da UE, peritos da ONU e da principal associação de académicos da área marca uma viragem crítica no discurso internacional sobre o conflito.

Esta qualificação eleva o debate do campo político para o do direito penal internacional, aumentando a pressão sobre Israel e as instituições globais para uma responsabilização legal.

Os protestos das famílias dos reféns evidenciam uma profunda fratura na sociedade israelita sobre a condução da guerra.

A sua exigência por uma solução diplomática colide com a estratégia militar do governo, colocando o destino dos 48 cativos no centro de um intenso debate político e social em Israel.

Apesar dos apelos crescentes por um cessar-fogo e das ameaças diplomáticas de aliados como o Reino Unido, as negociações para a paz em Gaza estão estagnadas.

A aparente relutância de Israel em negociar, enquanto intensifica a sua ofensiva militar, sugere que a resolução do conflito através do diálogo permanece, por agora, uma perspetiva distante.

O plano norte-americano para o futuro de Gaza, que se baseia no deslocamento da sua população e numa administração externa, foi liminarmente rejeitado pelas lideranças palestinianas.

A proposta evidencia a enorme distância entre as visões internacionais para a região e as aspirações palestinianas de autodeterminação no seu próprio território.

Os ataques dos Huthis transformaram o Mar Vermelho num palco secundário, mas crucial, da guerra em Gaza.

Ao visar o comércio internacional e alvos israelitas, o grupo conseguiu internacionalizar o conflito, demonstrando a sua capacidade de perturbar a economia global e de provocar uma escalada militar que se estende muito para além das fronteiras de Gaza.