Briefing: Tarifas e guerra comercial

O acordo EUA-China proporciona um alívio temporário com a redução de tarifas e a suspensão de restrições, impulsionando os mercados.

Contudo, a indústria automóvel e os exportadores mantêm-se céticos quanto à estabilidade a longo prazo desta trégua comercial.

As tarifas dos EUA, juntamente com os custos de reestruturação da Porsche, causaram uma redução de mais de 50% nos lucros do Grupo Volkswagen.

Este impacto financeiro substancial afetou todas as principais marcas do grupo, incluindo Audi, e evidencia a vulnerabilidade da indústria automóvel europeia às políticas comerciais americanas.

A UE duplicou as tarifas de importação de aço para 50% e reduziu as quotas isentas de taxas, visando proteger a sua indústria.

Embora a Comissão Europeia defenda a medida como um passo para a reindustrialização, a indústria metalúrgica portuguesa alerta que a decisão ameaça a competitividade, as exportações e o investimento no setor.

As empresas da zona euro consideram que o acordo tarifário com os EUA terá um impacto negativo, devido à redução de exportações e ao aumento da concorrência interna, segundo um inquérito do BCE. Esta visão contrasta com a perspetiva mais otimista de alguns decisores políticos, que veem o acordo como um fator de estabilização económica.

A rentabilidade da Mercedes-Benz foi reduzida para metade nos primeiros três trimestres do ano, com a empresa a citar as tarifas dos EUA como um fator-chave, a par do abrandamento na China.

Esta pressão sobre as vendas e as margens evidencia o impacto significativo das políticas comerciais na indústria automóvel europeia.

A Nissan antecipa um prejuízo anual significativo superior a 1,5 mil milhões de euros, citando as tarifas dos EUA, os riscos na cadeia de abastecimento e a volatilidade cambial como fatores determinantes.

Esta previsão ilustra o impacto generalizado do protecionismo comercial na indústria automóvel mundial, afetando fabricantes em diferentes continentes.

Líderes empresariais portugueses alertaram formalmente a Comissão Europeia sobre o impacto negativo das tarifas dos EUA em setores industriais chave.

Argumentam que estas barreiras comerciais, combinadas com os elevados custos energéticos, criam uma desvantagem competitiva significativa para a economia nacional.

Altos responsáveis de bancos centrais na Europa, incluindo Christine Lagarde e Álvaro Santos Pereira, classificam as tarifas dos EUA como um grande choque geopolítico, equiparável à pandemia e à crise energética.

Esta perspetiva sublinha a incerteza e o entrave económico que o protecionismo comercial impõe à estabilidade e crescimento da zona euro.