Briefing: Crise no Médio Oriente

A decisão de várias nações ocidentais de reconhecerem o Estado da Palestina representa uma mudança diplomática relevante, que foi recebida com apoio palestiniano e árabe, mas com forte oposição do governo israelita. Este desenvolvimento acentua o isolamento de Israel e coloca a solução de dois Estados novamente no centro do debate internacional, apesar da promessa de Netanyahu de a impedir e de expandir os colonatos.

A campanha militar israelita em Gaza não abranda, causando um elevado número de mortos e uma crise humanitária severa, marcada pelo colapso dos serviços de saúde.

A estratégia de Israel parece dividida entre apelos a uma revolta interna contra o Hamas e propostas de anexação por parte da sua ala mais radical, enquanto a população civil continua a sofrer as consequências devastadoras do conflito.

A ONU, liderada por António Guterres, e vários atores internacionais estão a intensificar a pressão diplomática para a concretização da solução de dois Estados, considerando-a a única via para a paz.

Este esforço contrasta com a ausência de um processo político e contribui para o crescente isolamento de Israel, enquanto a comunidade internacional planeia a reconstrução de Gaza e o apoio a um futuro Estado palestiniano.

O caminho para um cessar-fogo em Gaza permanece bloqueado por desconfiança e objetivos divergentes.

Enquanto os EUA projetam a possibilidade de um acordo condicionado à libertação total dos reféns, o Qatar acusa Israel de minar deliberadamente o processo de paz, deixando o destino dos reféns e o fim do conflito numa situação de impasse.

O confronto entre a “Flotilha Global Sumud” e as forças israelitas evidencia a luta contínua em torno do bloqueio a Gaza.

De um lado, uma missão humanitária determinada a prestar auxílio direto; do outro, um Estado soberano a impor um bloqueio que considera legal e necessário para a sua segurança, resultando num impasse tenso em alto-mar.

A crescente onda de protestos em Israel reflete uma profunda insatisfação com a gestão da guerra e da crise dos reféns por parte do governo de Netanyahu. A exigência de uma solução negociada e a demissão do primeiro-ministro, aliadas às críticas da oposição sobre o isolamento diplomático do país, indicam uma crise de confiança que desafia a estabilidade da coligação governamental.

O conflito está a extravasar as fronteiras de Gaza, com o Egito a reforçar militarmente a sua fronteira e Israel a envolver-se em confrontos diretos com os Huthis no Iémen.

Estes desenvolvimentos sublinham a fragilidade da estabilidade regional e o perigo real de uma conflagração mais vasta que envolva múltiplos atores estatais e não estatais.

A rivalidade entre a Autoridade Palestiniana e o Hamas atingiu um ponto crítico, com a AP a exigir o desarmamento do grupo e a condenar as suas ações, enquanto o Hamas reafirma o seu compromisso com a luta armada.

Esta divisão interna compromete a capacidade de apresentar uma frente palestiniana unida e complica seriamente a implementação de uma solução política para o pós-guerra.

O Irão mantém uma postura de confronto, utilizando o seu programa nuclear como moeda de troca e ameaçando com retaliação militar. Ao mesmo tempo, a sua projeção de poder através de aliados regionais, como o Hezbollah, cria tensões e desafios à soberania de outros países, mantendo o Médio Oriente num estado de elevada volatilidade.

A Síria entra numa nova fase, caracterizada por uma dupla dinâmica: a busca por legitimidade internacional por parte do novo governo de transição e o início de um processo de responsabilização judicial contra o antigo regime de Bashar al-Assad. Estes desenvolvimentos sugerem uma rutura com o passado e uma tentativa de reconstruir o país numa base diferente.