Briefing: Crise na habitação

A contínua descida das taxas de juro do crédito à habitação, que atingiram em julho um mínimo de quase três anos para novos contratos, oferece um alívio nos custos de financiamento.

No entanto, este benefício é largamente neutralizado pelo aumento dos preços das casas, mantendo a acessibilidade à habitação como um desafio central para as famílias portuguesas.

Com taxas de esforço de 71% para a compra e 83% para o arrendamento, a crise da habitação em Portugal ameaça a estabilidade de inúmeras famílias. A falta de oferta acessível é o cerne do problema, que já domina a agenda política local e nacional, exigindo soluções estruturais urgentes para evitar uma crise social mais profunda.

Apesar dos desafios na execução, o Governo está a implementar medidas para acelerar o programa de habitação do PRR, visando a entrega de 26 mil casas até 2026.

A simplificação dos pagamentos aos municípios é uma aposta crucial para superar os atrasos e concretizar uma das principais respostas à crise habitacional.

Impulsionado pela forte procura internacional e pela oferta limitada, o mercado imobiliário de luxo em Lisboa continua a valorizar, com os preços a subirem 2,4% no primeiro semestre.

Este crescimento contrasta com a crise de acessibilidade geral, evidenciando um mercado cada vez mais segmentado e desigual.

O mercado imobiliário de luxo está em clara expansão para além de Lisboa, com o Algarve e o Alentejo a consolidarem-se como novos centros de exclusividade. A valorização de localizações como Grândola e Lagos demonstra a crescente procura por propriedades de alto valor nestas regiões, impulsionada pelo turismo e pelo investimento estrangeiro.

A crise habitacional é agora um tema dominante nas eleições autárquicas em todo o país, com candidatos de múltiplos partidos a apresentarem propostas para aumentar a oferta de habitação acessível.

Este foco reflete a urgência do problema e a crescente expectativa de que as autarquias desempenhem um papel ativo na sua resolução.

Apesar da crise de acessibilidade, a construção de novos fogos está ativa em Portugal, mas concentra-se largamente em projetos de gama média-alta e de luxo. Esta tendência de mercado, embora demonstre a atratividade do imobiliário nacional para o investimento, não responde à necessidade urgente de habitação a preços comportáveis.

O mercado imobiliário português apresenta dinâmicas regionais distintas, com as ilhas e a região do Porto a registarem um crescimento significativo no número de transações.

Este desempenho demonstra a resiliência e a procura sustentada nestes mercados, contrastando com as dificuldades de acessibilidade sentidas a nível nacional.

Apesar da descida das taxas de juro, a prestação média da casa em Portugal estagnou nos 394 euros, um reflexo direto do aumento dos preços dos imóveis.

As famílias são forçadas a contrair empréstimos maiores, o que anula o alívio nos juros e mantém elevada a pressão sobre os seus orçamentos.

O capital e os compradores internacionais são um pilar fundamental do dinamismo do mercado imobiliário em Portugal, especialmente nos segmentos de luxo em Lisboa, Algarve e Alentejo Litoral.

Esta procura externa sustenta os preços e incentiva novos projetos, ao mesmo tempo que evidencia a crescente segmentação do mercado habitacional.