Briefing: Crise humanitária em Gaza

O crescente número de mortos e a grave crise de fome, que já ceifou mais de 260 vidas, incluindo mais de 100 crianças, sublinham a extrema catástrofe humanitária em Gaza. A situação é exacerbada pela destruição quase total das infraestruturas e pelo bloqueio contínuo, que limita severamente a entrada de ajuda essencial.

O plano de Israel para assumir o controlo total da Cidade de Gaza representa uma escalada significativa, apesar dos avisos da sua própria liderança militar sobre os riscos estratégicos e o potencial de se tornar um "buraco negro".

A ofensiva levanta sérias preocupações sobre mais vítimas civis, o destino dos reféns restantes e a viabilidade a longo prazo de ocupar a área urbana densamente povoada.

A acusação da Amnistia Internacional de uma "campanha deliberada de fome" formaliza a condenação internacional da conduta de Israel em Gaza. Esta acusação, juntamente com alegações anteriores de genocídio e do uso da fome como arma de guerra, altera a narrativa de uma crise humanitária como consequência da guerra para uma crise como um alegado método de guerra, aumentando a pressão sobre Israel em fóruns legais internacionais.

Os esforços diplomáticos, liderados pelo Egito, centram-se numa proposta de cessar-fogo de 60 dias que envolve uma troca de reféns por prisioneiros e ajuda irrestrita a Gaza. Embora uma delegação do Hamas esteja a participar nas conversações no Cairo, as pré-condições do grupo e a escalada militar simultânea de Israel representam obstáculos significativos para a obtenção de um acordo definitivo.

Protestos em larga escala e greves nacionais em Israel refletem uma profunda divisão social sobre a estratégia de guerra do governo, com uma parte significativa da população a priorizar a libertação negociada dos reféns em detrimento da escalada militar.

O primeiro-ministro Netanyahu rejeitou esta pressão, enquadrando-a como um movimento que fortalece o Hamas, o que evidencia o profundo conflito entre os objetivos políticos e as exigências das famílias dos reféns.

O futuro da governação de Gaza é um ponto de grande discórdia, com a Autoridade Palestiniana a propor uma força de estabilização internacional com a participação de vários países. Esta proposta contrasta com a preferência de Israel por uma "força árabe" indefinida e com o aviso do Hamas de que qualquer presença externa seria vista como uma ocupação, revelando um impasse diplomático significativo em relação ao "dia seguinte" ao conflito.

A aprovação por parte de Israel do controverso plano de colonatos E1 é uma medida explícita para inviabilizar um Estado palestiniano viável, conforme declarado por um ministro israelita. O plano, que dividiria a Cisjordânia, foi condenado pela ONU e representa um passo desafiador contra o direito internacional e o quadro de longa data para uma solução de dois Estados.

O Egito lidera uma firme oposição regional àquilo que descreve como uma política israelita destinada ao deslocamento forçado de palestinianos de Gaza. O Cairo condenou os alegados esforços israelitas para reinstalar habitantes de Gaza noutros países como um "crime" e foi acompanhado por outras nações na recusa de qualquer participação, considerando-a uma tentativa de "liquidar a causa palestina".

Uma onda de calor severa está a agravar o sofrimento de centenas de milhares de pessoas deslocadas em Gaza, que vivem em tendas improvisadas com pouco ou nenhum acesso a água potável. A ONU alertou para o aumento dos riscos de desidratação, uma vez que as temperaturas sobem muito acima da média, adicionando um fator de stress ambiental crítico à catástrofe humanitária existente, causada pelo conflito e pelo bloqueio.

O conflito extravasou as fronteiras de Gaza, como evidencia o ataque de longo alcance de Israel a infraestruturas energéticas dos Huthis no Iémen.

Esta ação, uma retaliação direta aos ataques de mísseis e drones dos Huthis, confirma um confronto regional mais amplo envolvendo grupos apoiados pelo Irão e sublinha o potencial para uma maior escalada em todo o Médio Oriente.