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Sexta-feira, Agosto 8

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Jornal Nordeste

Semanário Regional de Informação
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DEPENDÊNCIAS AO VIRAR DA ESQUINA

Parece que não nos estamos a aperceber que quer em Portugal, quer na Europa, o atual sistema partidário está a colidir fortemente com o sistema social que teimamos em manter. Em Portugal e mesmo na Europa, continuamos a lavrar no mesmo erro, ou seja, continuamos a acreditar no mesmo modelo social, parecido com o que foi criado no século passado. Mas as coisas são diferentes. No século passado, como a economia era muito próspera porque havia muitos contribuintes e poucos beneficiários da Segurança Social, o equilíbrio era razoável e positivo. Além disso havia um equilíbrio demográfico. Hoje nada disto acontece. A economia está debilitada, o equilíbrio demográfico não existe, há poucos jovens para muitos idosos. Por outro lado, a quantidade de pessoas protegidas é uma imensidão. Para reconhecermos esta faceta na sociedade portuguesa, basta passearmo-nos pelo interior do país, passar em algumas aldeias e logo nos apercebemos do despovoamento existente e no desequilíbrio social que existe. Os jovens desapareceram das aldeias. Sabemos que agrada à população portuguesa ser protegida pelo Estado e os governos e todos os partidos apresentam frequentemente novos benefícios para salvaguardar a situação social dos mais desprotegidos. Nos últimos anos aumentou a quantidade de subsídios a atribuir à população. Subsídios para tudo e mais alguma coisa. É verdade. Merecido ou não, não interessa para o caso. O que é necessário é dar subsídios pois isso pode trazer algo em troca. Ora isto acontece igualmente na Europa. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Europa viveu momentos de prosperidade, pelo menos até 1975. Depois até 1999 houve uma desindustrialização que trouxe consequências inesperadas e graves. Na verdade, em todos os países e em todos os governos, passou a haver uma dependência enorme de subsídios. E aqui não se contabiliza a população em geral, mas essencialmente os que ficavam, de algum modo, perto dos governos e com eles conviviam politicamente. Os partidos ganhadores em eleições começaram a subsidiar os deputados por várias formas. A verdade é que pareciam verdadeiras agências de colocação. Era uma forma de dependência segura para os dois lados. Os deputados submetiam-se e submetem-se sem problemas a esse tipo de dependência e não lhes interessa desviar o seu rumo, pois caso o façam, perdem essas prerrogativas incluindo não integrarem as listas em próximas eleições. As pessoas têm de se portar bem para poderem fazer parte das listas em eleições futuras. O que verificamos agora é que a maior parte dos deputados não tem profissão, ou seja, não a exerce. Porquê? Porque se profissionalizam politicamente e o lugar que ocupam, passam a ser a sua profissão a tempo inteiro. É uma profissão bem paga, mas muito dependente. E o que acontece depois? Pois, quando acaba o lugar de deputado, as pessoas como se profissionalizaram desta forma, não têm para onde ir. Ficam sujeitos aos subsídios vitalícios que o Estado lhes atribui e vão para casa descansar. Claro que tudo depende do tempo que exerceram os seus lugares. Uns têm sorte de passarem muitos anos como deputados, mas outros saltam fora por motivos diversos passados quatro ou seis ou oito anos, o que agrava a situação dos próprios. Tudo depende também dos partidos a que estão ligados e que lhes permite serem deputados. Os lugares dos partidos na Assembleia da República, vão variando e exemplo disso foram as últimas eleições. Muitos deputados que já estavam a profissionalizar-se, acabaram por ter de abandonar os seus lugares. A dependência talvez se tenha perdido. Resta-lhes esperar por um subsídio do qual se tornarão dependentes ou tentar, se for caso disso, exercer outra profissão para a qual tenha aptidões. Enfim! Este sistema partidário, definitivamente está ultrapassado.Perante um Sistema Social desadequado e um sistema partidário absolutamente dependente concomitantemente com um desequilíbrio social tremendo, a solução é uma mudança drástica urgente. A verdade é que se este sistema partidário não mudar, o que acontece é que conduzirá o país a uma situação muito grave, já que as consequências são várias e em variadas vertentes. E quem não pensar nisto já, em breve se aperceberá disso. É que é já ao virar da esquina que pode haver um trambolhão enorme. Luís Ferreira

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A hora é dos independentes

Diz-se que a democracia está em crise, hoje em dia. Numa abordagem superficial, ainda que pragmática, sem grandes preocupações epistemológicas, portanto, poder-se-á aceitar que sim, sobretudo no que ao regime político português diz respeito, mas não só, sendo que o problema não é de agora. Crise que ganha corpo com o persistente desprestígio dos partidos políticos, sem exceção, que, quanto a mim, tem na hegemonia partidária a sua causa principal. Ou seja: os partidos políticos, que originalmente nem sequer foram citados pelos redatores das primeiras constituições democráticas, como é correntemente realçado por conhecidos politólogos, acabaram por eles próprios monopolizar e condicionar o acesso ao poder político democrático, arredando quaisquer outras organizações cívicas, culturais, ou de que natureza for, de se poderem candidatar a uma participação justa e construtiva na vida política comum. É por demais evidente que este hegemónico monopólio partidário levou a que os partidos fossem preferencialmente tomados de assalto, mais do que seria razoável, por agentes oportunistas de inferior competência e tendencialmente corruptos, em procura de benefícios próprios ou pugnando por proveitos ilícitos de empresas privadas, remetendo o interesse nacional para segundo plano, com os prejuízos gravosos que daí advêm para a coletividade. Claro que, se esta análise se alargar a todos os Estados da Europa democrática, haveremos de admitir que, mais do que uma crise da democracia, eventualmente tida como circunstancial, é a própria civilização europeia que está em causa. Civilização que tem história longa, como se sabe, cujas origens são vulgarmente remetidas para gregos, romanos e mesmo judeus, ainda que registe vários acidentes trágicos, os últimos dos quais aconteceram com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a ainda mais devastadora Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Certo é que a democracia, liberal e representativa, alcançou o seu máximo esplendor de liberdade, igualdade, humanismo, representatividade e afirmação do estado de direito, mais genericamente falando, no período dito de pós-guerra, assumindo-se como o emblema essencial da que poderá ser justamente designada por civilização europeia, agora perigosamente ameaçada. Tanto assim é que, quer a civilização, quer a democracia aqui referidas correm o risco de mais uma vez serem sacrificadas num potencial conflito militar alargado, já em curso, com intensidade, nas suas fronteiras e mesmo no seu interior, na modalidade de guerra híbrida. Tão pouco será de excluir a hipótese muito séria de uma alargada guerra civil europeia, causada, sobretudo, pelo fanático proselitismo islâmico, que tem conhecidas raízes históricas e que diariamente ganha terreno e força em vários Estados, incentivado pela pusilanimidade de muitos dirigentes europeus e dos vícios de toda a ordem alimentados pela dita hegemonia partidária, como bem se vê no regime político português. Partidos nos quais, em muitos casos, se instalaram nefastas teias familiares, facções antagónicas, bandos de malfeitores e até sub-reptícios agentes inimigos. De tudo isto resulta o desprestígio generalizado dos partidos, mais visível nos que têm governado Portugal desde a implantação da democracia, por entre sucessivos escândalos e fracassos, a nível central e local. Só assim se compreende, de resto, que Portugal continue posicionado no mais baixo patamar europeu, por maiores ajudas financeiras que continue a receber da União. O que também explica o crescente interesse pelas candidaturas independentes, para já apenas viáveis a nível autárquico e presidencial, ainda que seja desejável e salutar que, a breve prazo, também sejam implementadas a nível governamental ou parlamentar, como se queira. Acreditando-se que as candidaturas independentes introduzirão uma melhor ligação dos políticos ao povo, maior isenção e participação cívica, mais competência governativa e maior dedicação à causa pública e ao interesse nacional. Importa clarificar, ainda assim, o conceito de “independente”, sem excluir os que abandonam os partidos em que militam em litígio com evidentes más práticas partidárias, independentemente das questões ideológicas que, hoje em dia, não passam de discursos tendencialmente demagógicos e populistas. Ainda que se deva pôr a tónica nos cidadãos que são motivados pelo genuíno interesse de bem servir, sem menosprezar o justo desejo de realização pessoal. Havemos de concluir, portanto, que as candidaturas independentes, a serem plenamente assumidas, poderão representar uma positiva reforma política, a salvação da democracia e uma certa renovação civilizacional, perante a inação criminosa dos poderes partidários instalados. Certo é que, quanto mais os partidos se desprestigiarem, mais crescerá o interesse dos eleitores pelas candidaturas independentes. Henrique Pedro

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VERDADES A RIR

Chegou o período de férias e com ele a ligeireza com que se abordam determinados temas que conferiu a este período a conhecida catalogação de “silly season”, passe o estrangeirismo. Mesmo assim, é difícil entender a inversão de valores a que assistimos neste retângulo marítimo que nos foi dado habitar. Em Loures soube-se, pela voz do seu autarca, que no seu território se traficam barracas e que, em consequência, em vez de perseguir os autores e beneficiários do delito, penalizam-se as vítimas e retira-se o teto a quem já pouco teto tinha… com a justificação que era pouco, precário, desumano e insuficiente. Soube-se também, pela voz de José Soeiro, que no Porto, um tribunal decretou prisão preventiva a um cidadão emigrante, justificando tal medida com o risco de fuga. O pretenso delito, sendo questionável, não permite que me pronuncie sobre ele, não só por não me achar minimamente competente para o analisar, mas igualmente por não o conhecer de forma independente. Provavelmente a acusação é injusta, mas não é essa a questão que me leva a pronunciar. É a pena que me chamou a atenção. Ao réu foi aplicada a pena de expulsão do país que o mesmo contestou e, enquanto a contestou, foi preso… para evitar que saísse do país!!! Por mera coincidência (ou não), entre os muitos convites que recebo para participação em concursos literários, com regulamentos mais ou menos sisudos, mais ou menos complexos, mais ou menos rígidos (há quem não conceba qualquer valor a um texto que não seja expresso em times new roman, tamanho 12, espaço 1,5), chegou-me, recentemente, um que preza pela ligeireza, embora, com graça, venha colocar o dedo em alguns aspetos menos conhecidos desta “atividade” paralela à produção cultural. O Ernesto Rodrigues, conhecedor do meio, no seu livro Cruzeiro Literário, já o abordara, embora menos explicitamente. O promotor do Prémio Literário VS-Ernesto Sampaio, admitindo todos os géneros literários existentes e os que se possam inventar (o que é uma expressão máxima da liberdade que deve presidir a todo o ato criativo), informa com toda a clareza que o recurso a pseudónimo, sendo admitido, revela uma falta de confiança na idoneidade do júri cuja identidade é, inovadoramente, revelada desde já. E que, por sua vez, irá encontrar o vencedor usando métodos obscuros, mas honrados. Fica o aviso para quem, maquiavelicamente, trata de preparar a candidatura a um determinado prémio, “escolhendo” quem, por sua vez, irá selecionar “adequadamente” os membros de júri para assim garantir a indispensável independência! Ora, no caso em apreço, fica explícito na regulamentação que não serão aceites quaisquer subornos (pois os jurados não prescindem de fazerem o que bem lhes apetecer) e igualmente a sua decisão não admite qualquer recurso, sendo “inclemente a choradinhos, esperneares, olhinhos, afagares indiscretos e quejandos”. Reclama ainda o óbvio, embora raramente admitido pelas entidades organizadoras: se não houver premiado, o montante amealhado com a poupança será esbanjado discricionariamente! Brilhante. Só me resta recordar, muito a propósito, o grande poeta popular António Aleixo: “Julgando o dever cumprir Sem descer no meu critério Digo verdades a rir Aos que nos mentem a sério.” José Mário Leite

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A linha que divide o poder

Há quem apelide o poder como um mal necessário. Porém, outros classificam-no como a necessidade de exercer o bem e o mal, dependendo de quem o exerce. A verdade é que sem poder ninguém consegue governar. Resta saber como se utiliza esse poder. O Mundo vive hoje momentos demasiado controversos e perigosos e é, substancialmente, governado por quem vai exercendo o poder a seu modo, sem se importar muito com o que os outros possam pensar a esse respeito. Os conflitos a que todos nós assistimos diariamente pelas televisões, consubstanciados em opiniões de pessoas supostamente dentro dos problemas, informam-nos cabalmente do que se passa e, ao mesmo tempo, do que possam pensar os governantes que lideram tanto os conflitos como as possibilidades de os resolver. No entanto, esses governantes, supostamente sábios e poderosos, brincam aos jogos de poder, impondo linhas vermelhas a quem estiver contra os seus interesses ou quiser ultrapassá-los. A guerra da Ucrânia, o conflito do Médio Oriente, as invasões da Síria, do Líbano e os ataques ao Irão levam estes acontecimentos para um patamar impensável. As consequências colaterais são enormes para todos os países e aqui não existem linhas vermelhas. O poder passa por cima sem se importar com elas. A invasão da Ucrânia pela Federação Russa é a demonstração do poder de Putin. Ele próprio impõe limites aos países que podem ajudar a Ucrânia a defender-se desta guerra aberrante e cheia de contradições. A Ucrânia nada fez para merecer ser invadida, mas a sede de poder e de controlo levou-o a tentar algo que, por acaso, lhe saiu muito mal. A Ucrânia estava bem preparada militarmente e tem sabido defender-se, embora com a ajuda de outras potências. Agora, muito mais debilitada, a Rússia de Putin promete paz, quer negociação, mas bombardeia no mesmo dia que promete negociar. O poder sobrepõe-se e não se subjuga a uma ideia de paz. E mesmo os supostos compromissos com Trump não são cumpridos. O Presidente dos EUA está farto de promessas. O “amigo” Putin, afinal, tem andado a enganá-lo. Resolve tomar uma posição mais dura e ameaça com ajuda à Ucrânia, mas Putin não se amedronta. A Europa reúne forças e agrupa frentes de defesa. A Grã-Bretanha, a Alemanha e também a França alinham o seu poder para ajudar a Ucrânia. Acelera-se a produção de armamento. Isto acelera um possível confronto Leste-Oeste e tudo fica mais perigoso. Medvedev já adiantou a hipótese de “atacar preventivamente” a Europa. Loucura completa. Só da cabeça de um fanático! Ou será que é o estrebuchar do moribundo? Isto porque, quer queiramos ou não, a Rússia está muito debilitada militarmente e tem valido uma certa ajuda da Coreia do Norte, quer em homens, quer em armamento. No Médio Oriente, especificamente em Israel, assistimos igualmente a uma movimentação desorientada de tropas e de ataques israelitas quer na Faixa de Gaza, quer na Síria, quer no Líbano, quer ao Irão. Apesar do apoio de Trump, este não está a gostar do rumo que Netanyahu está a levar. Este, preso a dois ministros de extrema-direita ou ultraortodoxos que querem a exterminação do Hamas a todo o custo, não sabe bem o que fazer. O seu limite de poder vai até à possibilidade de sair do governo, caso não cumpra as ameaças dos ministros de extrema-direita que sustentam o governo. Ou Netanyahu cede e continua a guerra, ou o governo cai e ele vai preso pelos crimes de que é acusado. A solução é conseguir apoios ao centro, de modo a manter o poder e ter a possibilidade de rumar a uma paz mais duradoura que permita uma reconstrução da Faixa de Gaza. Mas como? Será que Trump vai permitir? Luís Ferreira

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ONDE ISIDRO (NÃO) CHEGOU

O Major General Isidro Morais Pereira fez saber que, respondendo a uma persistente e continuada insistência de inúmeras pessoas, para se candidatar à Presidência da República Portuguesa, decidiu dar um passo em frente. Talvez, em boa verdade, um meio passo, pois apenas admitiu estar a ponderar essa hipótese, prometendo divulgar o resultado da reflexão que vai fazer, depois das autárquicas (entende-se bem porquê e já lá iremos), e mesmo esse arremedo de avanço, algo tremido, como veremos. Porque, vindo de alguém perto do militar, surgiu a notícia de estar agendada uma reunião entre o protocandidato e o partido de extrema-direita, Chega. Pedro Frazão, vice-presidente desse partido, por ocasião do anúncio da sua candidatura à Câmara Municipal de Oeiras, confirmou o respetivo agendamento. O próprio General e comentador televisivo deu cobertura às notícias que disso davam eco, afirmando: “Sinceramente, se a minha decisão for no sentido de me candidatar, não enjeito o apoio dos partidos. Os partidos fazem parte da democracia portuguesa. É sempre um conforto. Todo e qualquer partido que merece um apoio significativo dos portugueses, como foi o caso do Chega, que teve mais de um milhão de votantes… não há razão nenhuma para que não aceitasse esse apoio. Isto não quer dizer que concorde com todas as bandeiras do Chega.” Logicamente, iriam, em consequência, reunir-se. Mas não se reuniram. Facilmente se percebe porquê. Porque, tal como o PS, provavelmente pelas mesmas razões, o Chega não quer definir a sua estratégia antes das autárquicas. Nunca, como agora, as eleições locais condicionaram tanto as presidenciais. Porque, como referiu Morais Pereira, uma fatia eleitoral com mais de um milhão de votos é muito apetecível para qualquer um que se queira submeter ao sufrágio popular… desde que houvesse uma garantia mínima de que poderia ser abocanhada na sua totalidade ou, pelo menos, numa parte substancial. Ora, a trajetória ascendente do partido de André Ventura sofreu um revés nas europeias… onde o próprio não era candidato. Terá sido isso apenas um “acidente” ou a revelação de que, sem o seu líder e principal figura de destaque, o partido vale muitíssimo menos? É isso que as autárquicas irão revelar. E fará toda a diferença! Aí o PS ficará a saber se o seu partido foi realmente ultrapassado ou se foi “apenas” Ventura que superou Pedro Nuno Santos, deixando José Luís Carneiro livre para a decisão do apoio socialista ao pretendente presidencial da sua área. Igualmente, o comentador da CNN verá se a tão apetecível parcela de eleitores pode ser minimamente garantida ou se apenas a teatralidade do inefável André a consegue mobilizar. O problema é que, apesar de não ter conquistado ainda nada nem ninguém de forma substantiva, a aproximação à ideologia extremista já lhe granjeou anticorpos e, como tal, tendo-o constatado, apressou-se a recuar tanto quanto lhe é ainda possível. Veja-se a enorme distância da declaração inicial, atrás referida, da mais recente, que, a este propósito, é conhecida: “Meus estimados amigos, tendo surgido algumas notícias tentando associar o meu nome a um partido político (CHEGA), quero deixar bem claro, para que não restem quaisquer dúvidas, que não tenho NENHUM TIPO DE LIGAÇÃO, com o partido em questão.” Esclarecedor! José Mário Leite

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O Vale do Tua pariu um sapo

A conhecida expressão “a montanha pariu um rato” é muito velha. Tanto que é atribuída ao filósofo romano Horácio, que a terá utilizado há mais de dois mil anos, com o intuito de manifestar a sua frustração com algo que gerou grandes expectativas, mas acabou por redundar numa insignificância, para não dizer num fracasso. Não deixa de ser significativo, por isso, que a dita expressão seja muito usada em Portugal, hoje em dia mais do que nunca. Ainda assim, no caso particular dos transmontanos, não há razões de queixa, pois, lamentavelmente, quem os governa grandes expectativas sequer lhes têm criado, não lhes dando, por isso, razões para se sentirem frustrados. Tirando, e poucos mais exemplos se poderão encontrar, o magno projeto que dá pelo nome de Plano de Mobilidade do Tua, que, apreciado em várias vertentes, a montante e a jusante das águas e das ideias, ganha, de facto, dimensão impactante. Ora, é aqui que a porca torce o rabo. Acontece que, decorridos 16 anos desde a sua criação em 2009 e consumados gastos de 16 milhões de euros, há mais que razão e humor, absurdo ou sarcástico, como se queira, para se poder dizer, não que “a montanha pariu um rato”, mas que o Vale do Tua pariu um sapo anafado, que tranquilamente abobora nas margens da plácida albufeira. Uma notícia recente sobre esta matéria causou, contudo, relativo impacto nas ditas redes sociais, Facebook em particular, ainda assim muito longe, quanto a mim, do que deveria merecer por parte do grande público, sobretudo daqueles a quem diretamente diz respeito: os transmontanos em geral e os nordestinos em particular. Transmontanos que, nos próximos atos eleitorais, irão ou não irão votar, como sempre o fazem, mais com o coração do que com a razão, ainda que as opções que se lhes oferecem, por força da democracia que têm, pouco ou nada mudem. Sendo desejável, em qualquer caso, que a região não continue esquecida, adiadas e mal representada nas instâncias mais altas do poder político central e local. Resumidamente, e sem entrar em detalhes, diz a notícia, que teve origem no jornal Público online e foi repassada por diversos outros meios, que o Ministério Público, através da sua delegação de Mirandela, abriu um inquérito crime para investigar o incumprimento da concessão pública de exploração da Linha do Tua. Finalmente, é caso para se exclamar! Isto se o finalmente não significar que o caso vai morrer definitivamente, ante a patente lentidão da Justiça. É que, convém lembrar, quando o Plano de Mobilidade do Tua nasceu, em 2009, como contrapartida à construção, pela EDP, da barragem de Foz do Tua, que submergiu um troço de 23 quilómetros de via-férrea, muita boa gente esfregou as mãos de contente, pensando que toda a região transmontana em geral, os municípios ribeirinhos do Tua em particular e Mirandela em especial, tinham sido agraciados com uma fortíssima alavanca de desenvolvimento. Puro engano. Dezasseis anos decorridos, tudo continua na mesma ou pior, com parte significativa do mítico Vale submerso, equipamentos valiosos em acelerada degradação, as populações a chuparem nos dedos e os autarcas a bailar, felizes e contentes, entre as suas terrinhas e a capital deste reino de democrática fantasia. Acresce que os dados de recenseamento eleitoral mais recentes expressam uma aflitiva dinâmica de ermamento. De ermamento que não de desertificação, note-se bem, porque, neste caso, não podemos queixar-nos das alterações climáticas, já que a Natureza está mais pujante do que nunca. Mas de algo que é bem pior: a incompetência e o desleixo dos governantes, com destaque e acrescidas responsabilidades para os autarcas. Tanto assim é, ou foi, que o polémico barramento avançou sem demoras nem contratempos e já está a render, por certo, lucros chorudos aos investidores. As contrapartidas, pelo que agora se vê, é que não terão passado de uma gigantesca frustração, para não dizer de um logro vistoso. Pudera! É que os donos da EDP, entre os quais pontifica a empresa estatal China Three Gorges Corporation, não brincam em serviço. Lamentavelmente, não pode deixar de se dizer, este plano é mais um que traduz a falência total, não da democracia, mas do regime político vigente, que, deformado pela hegemonia partidária, continua a gerar maus governantes, a desprezar os cidadãos e a esbanjar o erário público, persistindo no ermamento e no subdesenvolvimento do interior. Torna-se imperioso, por tudo isto, que a Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADRVT), igualmente criada em 2011 como contrapartida pela construção da barragem do Tua e a quem a responsabilidade da execução deste plano foi atribuída, venha a público dizer de sua justiça, sobretudo no contexto da próxima campanha eleitoral e antes mesmo do Ministério Público se pronunciar Henrique Pedro

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Negociar com o destino

Nem todos temos a mesma conceção de destino.Uns são fatalistas, como o foi Camões, que acreditam que o destino está marcado e nada podemos fazer para o alterar. Outros são positivistas, acreditando que tudo pode ser melhor e que podemos sempre contribuir para essa melhoria. Ainda há os que não se importam com o destino e nem sequer acreditam nele. Afinal, o que é o destino? A humanidade sabe que todos caminhamos para um fim, pelo menos terreno, e esse será o destino final. Como chegar até lá é uma incógnita. Os caminhos são infinitos e muitas vezes demasiados sinuosos. Também não sabemos quão distante é esse final. Há caminhos curtos e outros mais longos, mas todos acabam. Têm de acabar. É o destino. Quando esse caminho, que supostamente poderia ser longo e vitorioso, é interrompido abruptamente, leva a um sentimento de abatimento, desânimo e vazio imenso. Foi esse caminho que foi interrompido a Diogo Jota e ao irmão. Foi esse caminho que levou a um destino terrível, impensável. Um destino criminoso que roubou a vida a dois jovens irmãos e os afastou do amor familiar que tanto partilhavam. Foi esse destino que roubou a três crianças o amor do pai e à mulher, esposa e mãe, o pilar de uma construção que se imaginava segura, forte e duradoura. Como se pode acreditar num destino positivo depois disto? Não podemos negociar com o destino. Nem com o tempo. E se pudéssemos negociar com ele, o que lhe pediríamos? O que poderíamos oferecer em troca? Será que o destino aceitaria alguma coisa? Não, porque ele é intemporal, é abstrato, é impessoal. Não tem sentimentos. Se fosse possível, certamente a viúva tentaria negociar de alguma forma com o destino, o reverso da medalha que ele lhe deu. Do mesmo modo, o tempo é inegociável. O fio do tempo é indelével e irreversível. Mas é pesado. Nem que fosse somente negociar o esquecimento para aliviar o peso imenso que sobrecarrega o corpo entorpecido pela perda e pela tragédia, seria certamente uma possibilidade. Mas o esquecimento é impossível. Esquecer é o suicídio da alma e, como a alma é imortal, esquecer é impossível. Dobrada pela consternação que a morte violenta de Jota lhe causou, agora só sente falta de apoio, de amparo, de consolo, de amor, de carinho, de palavras. O peso do vazio e do silêncio é demasiado. De momento, é invadida pelo entorpecimento. A realidade é sentida dentro de dias. O silêncio torna-se enorme. Terá de enfrentar momentos irrealistas. O luto não é ultrapassável, mas é integrado e terá de aprender a viver com ele. O tempo é grátis! Um acidente terrível e violento que dizimou dois únicos irmãos e deixou os pais sozinhos para enfrentar um futuro que nunca imaginaram, não tem palavras para descrever. Deixou igualmente três crianças, que não entendem absolutamente nada do que se passa, mas questionarão dentro de poucos anos o porquê de lhe faltar o pai. Vão viver um tempo diferente, um sofrimento diferente e um vazio insubstituível, mas aprenderão a viver com ele. O tempo será um aliado do destino que lhes calhou em sorte. Alguns críticos referiram-se ao facto de Jota e o irmão terem o impacto que tiveram em todo o mundo, quer na sociedade civil, quer no meio futebolístico. Adiantaram que, se fossem outros jogadores, nada disto se faria e o impacto seria quase nulo. Talvez assim fosse. A diferença está na visibilidade que tinham e para a qual a imprensa e a comunicação social contribuíram. Apesar de não ser um jogador de topo, Jota era conhecido e bem visto como pessoa de fácil relacionamento e amigo de ajudar, além de ser um bom atleta. Muitas vezes ficava no banco de suplentes e, quando entrava, resolvia os jogos, marcando os golos necessários. Era querido no Liverpool e todos conheciam e eram amigos do Jota, o número 20. E assim será eternizado em Inglaterra. Por cá, foi rodeado de amigos, de colegas portugueses e ingleses, de políticos e por uma família destroçada, sem forças, que o acompanhou até à última morada. Constrangidos por uma morte violenta, avassaladora e demasiado imberbe, que resolveu roubar dois jovens que tinham uma vida pela frente, todos pisaram o mesmo chão que os conduziu a uma morada para a qual ainda não tinham feito qualquer contrato de arrendamento. Demasiado violento. Na realidade, se fosse possível negociar com o destino, nada disto teria acontecido, mas o destino não se revela e a irreversibilidade dos acontecimentos ainda não está ao alcance dos humanos. Que descansem em paz. Luís Ferreira

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O LENÇO

No lançamento do livro “Um Homem Comum num Tempo Incomum”, onde o autor, António Lacerda Sales, relata a sua experiência enquanto médico e governante no dramático período da pandemia do COVID-19, a uma pergunta da assistência afirmou, sem qualquer rebuço: “entre seguir a lei e salvar duas crianças, escolheria salvar as crianças”. Esta afirmação foi uma alusão clara ao célebre caso das gémeas brasileiras tratadas no Hospital Santa Maria, com o medicamento mais caro do mundo, o Zolgensma. Independentemente do juízo de valor e ético sobre o seu envolvimento no célebre caso que abalou a política portuguesa, é difícil contestar essa afirmação. De tudo quanto se sabe sobre os contornos políticos e jurídicos do incidente, tornado público e amplamente comentado, seja por ser necessário encontrar um bode expiatório ou porque o comportamento do governante deixou muito a desejar e não cumpriu as regras estabelecidas, é bem provável que o antigo Secretário de Estado venha a ser condenado em tribunal pela sua conduta. Porém, se o político deveria ter sido mais prudente e menos voluntarista, já ao médico, que sendo-o antes e depois de assumir responsabilidades no Governo, não deixou de o ser enquanto integrou o Ministério da Saúde, não seria de esperar outra atitude. A sua afirmação apenas reflete a consequência lógica do seu juramento de Hipócrates, que lhe há de condicionar a vida e comportamento enquanto portador de uma missão a que se comprometeu, por sua honra, dedicar-se. Não quero com isso dizer que o poder judicial não deva atuar de acordo com a Lei e sancionar tudo quanto houver de sancionável. Não direi uma única palavra em seu desabono. Já quanto ao olhar político sobre o caso, terei toda a tolerância e adesão a tantos quantos, nesse campo, se dedicarem a entender as motivações dos variados intervenientes. E, consequentemente, a maior repulsa por quem, com motivação populista, crendo que é no quanto pior melhor que pode construir um projeto de sociedade. Não só por razões de humanidade, mas pelo apuramento do que, em qualquer dos cenários, aproveita a quem. Pelo mesmo motivo, me proponho comentar a recente afirmação de André Ventura, que anunciou que o seu partido irá propor que seja proibido o uso do véu ocultando o rosto ou parte dele, em todas as instituições públicas como escolas não religiosas, hospitais, transportes públicos e demais locais regidos ou pertencentes ao Estado. Porque Portugal é um Estado laico. Pois é. E então? Que diferença me faz a mim ou a qualquer um dos leitores que fulana ou cicrana traga a cabeça descoberta, tenha um chapéu ou use um lenço? Incomoda-me, sim, a obrigatoriedade de o usar, mas também a sua proibição. E não consigo descortinar qual a motivação de o fazer… Até porque, aí chegados, seremos iguais àqueles que pretendemos criticar. Provavelmente é uma questão de “costumes”. Mas aí, alto e para o baile! Lenços na cabeça, a tapar todo o cabelo e parte da cara, SEMPRE houve, em Portugal, sobretudo em tempos idos, na viuvez, nas igrejas e em muitas atividades agrícolas, sobretudo as estivais. Trabalho numa instituição onde, com frequência, me cruzo com mulheres de lenço na cabeça. E não é por qualquer questão religiosa, antes fosse.  José Mário Leite

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António Tiza, A Revolta no Seminário de Bragança

A ação deste romance, saído na Âncora Editora, decorre entre julho de 1904 e a Semana Santa de 1908. Ou seja, quando o protagonista, Sebastião Fonte, termina os preparatórios no Liceu Nacional, encarreirado para o seminário, e, quatro anos depois, casa com Eunice Vasconcelos, sagrados pelo amigo, ex-colega e novo padre Leopoldo Abel. O que aconteceu, neste intervalo? Cerca das 23 horas de 12 de dezembro de 1904, ouviu-se um tiro de revólver, um grande alarido, os alunos de Teologia arrombam ou rebentam à machadada com as portas dos quartos (cujas chaves estavam com os dois prefeitos), partem mobília e, entre imprecações, dirigem-se à ala dos prefeitos e vice-reitor, que se anteciparam à insurreição e recolheram-se à casa particular. Seriam onze e meia quando, avisados pelo vice-reitor, um coronel de Infantaria e um funcionário da polícia entraram no seminário, todo às escuras e serenado. O auto policial não apurou quais os responsáveis. O bispo, D. José Alves de Mariz, reitor de facto, quisera, nessa manhã, prevenir a insubordinação que se desenhava, e viu nisto pé para, em 22 de dezembro, se refugiar na sua quinta da Cruz de Bencata (perto de São Martinho do Bispo, Coimbra, onde, de resto, descansava aos seis meses, longe da diocese). Sem discriminar responsabilidades, meteu no mesmo saco revoltosos e inocentes, num edital de 23 de janeiro, que encerra o seminário, faz perder o ano a 38 alunos (6 do terceiro ano, 13 do segundo, 19 do primeiro), enquanto expulsa 12 do terceiro ano e 12 do segundo, ou seja, 24, in perpetuum. Aqueles terão de, até 30 de junho, provar inocência, pedir clemência – e, mal sabem eles, aguardar um triênio para tomarem ordens. Cresce burburinho nas redes sociais do tempo, confrontando-se jornais, entre manifestações de repúdio na cidade, apelo do governo civil ao ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos, abaixo-assinado ao rei, debates nas câmaras dos deputados e dos pares (ainda ressoando em 1910), intervenção do núncio apostólico. Hoje, conhecemos também o parecer de 14 páginas, de 14 de março de 1905 (Arquivo Histórico da Procuradoria-Geral da República, PGR/06/10/10, Nº 1240, Livro 40 C – Justiça), enviado àquele ministério por António Cândido, Procurador-Geral da Coroa e Fazenda entre 1898 e 1910, para quem a sentença episcopal é «um ato de violência: 1º porque não se instaurou processo criminal; 2º porque se postergou o direito natural de defesa». Mais: ao encerrar o seminário «sem autorização do Governo», o bispo «praticou um ato que não era da sua mera jurisdição e invadiu as atribuições legais do poder civil». Explicadas as razões, questiona o procurador-geral se o Governo pode compeli-lo à reabertura do seminário e, se houver «resistência do Reverendo Prelado, que meios há para o reduzir à obediência devida?». Dois amigos sustentam esta história: Sebastião, natural de Varge, como o autor, é aluno interno no antigo colégio dos jesuítas; Leopoldo, filho da dona de estalagem – onde, antes, viveu aquele –, é aluno externo. Embora não implicados na revolta (julgavam preparar-se uma greve, como 30 anos antes), sofrem a injustiça episcopal e, pelos seus olhos, vamos lendo uma nação em polvorosa, quando jovens quase presbíteros (logo, com vocação) reivindicam contra um regulamento asfixiante. Enquanto o país se agita, Sebastião desiste no final do segundo ano letivo e vai dar aulas de Latim e Filosofia em Lisboa, voltando ao liceu de Bragança como docente em 1908. Acompanhamos, assim, o rotativismo partidário, ora progressista com José Luciano de Castro e seu ministro José de Alpoim, logo regenerador com Hintze Ribeiro, regenerador-liberal com um João Franco inimigo do delegado régio Trindade Coelho, e, no pós-regicídio, o almirante Ferreira do Amaral. São principais fontes três jornais da cidade, ora entrechocando, ora defendendo a honra da casa contra, sobretudo, o ultramontano bissemanário vianense A Cruz, que acolhe versão dos prefeitos e vice-reitor idos da arquidiocese de Braga e lança objurgatórias sobre o caráter dos nordestinos. António Tiza foi teólogo em anos menos obscuros e em espaço mais arejado do Seminário Maior. Conheceu as cadenciadas rotinas, desde os silenciosos retiros espirituais à cronometragem das orações, aulas, estudo, recreios, passeios e sono. Um seminarista alimentava-se mal (sem ser senhor do que a família lhe trouxesse à portaria), era vigiado, violado na correspondência (quando não no corpo em duvidosa higiene), proibido nos afetos, castigado sem razão. Nem todos podiam sonhar, tal o peso da família, mesmo da comunidade, que almejava assistir à primeira missa solene de um filho da terra. Sebastião tem a sorte de um tio padre, que compreende a falta de vocação e convence os pais. Estes aceitam, não virá mal ao mundo, este filho nunca os deixou ficar mal. A gota de água dos desacatos foi serem fechados à chave durante a noite, não podendo sequer ir à casa de banho. Aceitar estas e outras constrições só de humilhados, de quem não levanta a cabeça: «O pior é quando sentimos que estamos a ser humilhados, trancados à chave nos quartos como gado num curral, e não somos atendidos nas nossas pretensões.» (p. 132). Ao bispo faltou humilhar-se. António Tiza é antropólogo, carreando festividades, seja o ritual da Morte na Quarta-Feira de Cinzas em Bragança (à revelia do bispo, cuja pastoral de 20 de Dezembro de 1890 proibia estes autos), seja a festa dos rapazes e loas da sua terra, em que assistimos ao momento mais comovente e solidário destas páginas. As festas, também litúrgicas, os trabalhos e os dias aldeões a que Sebastião não foge, o cerimonial da matança do porco, vêm rastreados sob a égide da primeira de muitas figuras citadas, Francisco Manuel Alves, o abade da vizinha Baçal. Isso implica atenção particular à linguagem, desde o léxico local aos modos de dizer (home, bô, etc.). Figura já não colateral é o bispo: nomeado em 1885, entra na cidade em 31 de Janeiro seguinte, conservando-se até 1912. Repete cartas pastorais, semeia trigo e joio, acusa os adversários de republicanos anticlericais. O encerramento das aulas e o anátema lançado sobre 62 aspirantes, sem prévia audição, envergonharia a própria Inquisição. A reação da cidade (mesmo do distrito, com comício em Vimioso) não demorou, em manifestações na Praça da Sé, por iniciativa de um Afonso Dias, ou no Teatro Camões, por nomes graus, acobertando desejo do governo civil, secretariado por Eunice, paixoneta de Sebastião desde o liceu, que aos dois amigos transmite informações sigilosas. No ajuntamento da Praça da Sé, a multidão repudia acusações de marranos e cristãos-novos, pior, de abafadores, aleivosias do jornal de Viana do Castelo – e pretexto para discorrer sobre um tipo peculiar de eutanásia que inspirou O Alma-Grande, texto notável de Torga, em Novos Contos da Montanha, e título de romance, O Abafador (2011), de José Lopes Alves, um tenente-general nascido em Valpaços. A sessão no teatro, pacífica, exige um pequeno destacamento do Regimento de Cavalaria, chefiado por sargento à fala com Sebastião, importante no entrecho, e também nos destinos do país. Militar em vias de se mudar para Lisboa, trocam correspondência, reencontrando-se docentes em colégio da capital. Entre viagens épicas de um cansativo dia no comboio recém-chegado ao Nordeste, um Sebastião angelical (diferente do Calisto Elói de Camilo, autor tutelar ainda sugerido no título do cap. XL, “Mistérios de Lisboa”) assiste aos atropelos do franquismo, carteia-se com Eunice – mas vai beijando a colega Sara –, e frequenta o café Gelo, em mesa ao fundo (acrescento eu), dando para a Rua Primeiro de Dezembro, onde esse antigo militar se senta com outro filho de padre, Aquilino Ribeiro (e com Alfredo Luís da Costa, aqui rasurado). Vem a propósito uma lição sobre a Carbonária, à qual Sebastião se esquiva, como foge à ritualística do seminário. Há um curioso processo de sedução, quando se apercebem de que Varge tem carvoeiros regularmente abastecendo Bragança – desde logo, a estalagem de Leopoldo. António Tiza fixa-se no romanesco Luz de Almeida de final do século XIX, e poderíamos vir do reinado de D. Miguel, como mostrei em Carbonária, o Exército Civil do 5 de Outubro, artigo em Estudos Italianos e Portugal (2010). Mas isso não se exigia. Aqui chegados, reconhecemos a indicação genérica “Romance histórico”, explicitada por A. M. Pires Cabral no prefácio. Além da maioria de nomes próprios reconhecíveis, alguns dos quais ainda vivos na nossa meninice, as cenas acontecem na toponímia certa, embora exigindo do leitor que reconheça na Rua dos Oleiros, por exemplo, a atual Rua Almirante Reis, e lamente o fim do republicano Clube Brigantino, debruçado sobre a Praça da Sé, onde reuniam os alunos suspensos. Nova tiragem exigirá corretivos, da pontuação às gralhas, e vocábulos nem sempre obedientes ao, para mim lamentável, AO90, que este livro segue. É erro, repetido por Aquilino, chamar Colégio Moderno (ou Escola Nacional, p. 197, e Escola Moderna, p. 309, 318, 408) ao Colégio Nacional, onde ensinava Sebastião. Distracção curiosa é trocar a quinta da Cruz de Bencata por Cruz da Benquerença (p. 419). A página das Fontes não contempla O Primeiro de Janeiro ou o Giornale di Roma. O meu maior incómodo é o seguinte, qual entorse ao desígnio histórico: o dito sargento de Bragança era segundo-sargento; em 1905, esse militar, artista no tiro, não podia estar em Cavalaria, donde fora expulso em 1898. Bastava referir um encontro casual à saída do Teatro Camões e salvava-se o pormenor. Com efeito, esse Manuel Buíça, filho do abade de Vinhais, é o interlocutor e colega de Sebastião na docência, conviva de Aquilino – e regicida. Eis um romance informado, educativo, útil a vários títulos. Entra na polémica de há 120 anos, deslustrando atitudes de bispo autoritário e vingativo, indiferente ao cabido e às leis da nação; louvado em biografia do Abade de Baçal, não menos perdeu embates com figuras da cidade, merecendo poemeto herói-cómico de João Manuel de Almeida Morais Pessanha (o padre João Pessanha aqui citado), postumamente editado em Vigo: Dom Libato Safadinho, o Bispo. Na noite de 13 de Dezembro de 1909, lembrando quinquénio de luta, explodiu uma bomba sob os aposentos do bispo, ausente. Tanta acrimônia merecia bem este longo lembrete de 400 páginas sobre comunidade que, se tem razão, não deixa de exigir que se faça justiça. Ernesto Rodrigues

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Candidaturas eleitorais independentes: uma alavanca democrática

Não é a primeira vez que abordo este tema das candidaturas eleitorais independentes e bem poderá não ser a última, porquanto ainda faltam três ou quatro meses para as próximas eleições autárquicas, que estão agendadas lá para Setembro ou mesmo Outubro. Convém, por isso, começar por lembrar que desde a revisão da Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais, operada em 2001, através da Lei Orgânica n.º 1/2001, de 14 de Agosto, grupos de cidadãos podem apresentar listas de candidatos à eleição dos membros dos órgãos das autarquias locais (assembleias municipais, câmaras municipais e assembleias de freguesia), sem a obrigatoriedade de terem filiação partidária. Alteração que, comprovadamente, tem produzido efeitos muito positivos, muito embora o número de listas independentes até hoje apresentadas e os eleitos delas originários ainda estejam muito abaixo do previsível e do que será de desejar, pelas razões que se conhecem. Desde logo porque, o que poderá ser entendida como uma manobra mal-intencionada, premeditada, dos partidos, que nesse sentido legislaram, as listas independentes estão em manifesta desvantagem com as listas partidárias, no que toca à facilidade de todo processo burocrático e, sobretudo, no que ao financiamento das campanhas eleitorais diz respeito. Certo é que os partidos continuam com larga vantagem relativamente aos independentes, por duas razões fundamentais: não têm que recolher assinaturas e são subvencionados pelo Estado.  Acresce que este processo é particularmente desfavorável às candidaturas independentes nas autarquias ditas do interior, caracterizadas, como se sabe, por densidades populacionais mais baixas e em que a abstenção eleitoral é maior. Para lá de tudo o mais que tem a ver com as tão faladas reformas, que tardam, do ordenamento da administração local e da organização do território, que implicam a revisão dos limites geográficos das autarquias, a redistribuição de competências e a promoção de uma mais eficiente gestão do território. Certo é que sucessivos governos têm desleixado, ainda que estas ideias sejam sistematicamente objeto de discursos políticos, o fortalecimento da participação dos cidadãos na vida local, a promoção da transparência e a responsabilização dos órgãos autárquicos, garantindo uma gestão mais próxima dos cidadãos.  A verdade é que as candidaturas independentes aos órgãos autárquicos, trate-se de assembleias municipais, de câmaras municipais ou de assembleias de freguesia conforme a lei prescreve, se traduzem, por si sós, numa maior democraticidade e, de uma forma geral, na introdução de maior competência e transparência na gestão dos organismos em causa. Sobretudo numa mais empenhada defesa dos interesses das populações e na consequente maior dinamização económica, social e cultural das localidades porquanto, os autarcas independentes, por norma, são movidos por uma mais positiva vontade de bem servir, não estando amarrados por obscuras peias partidárias. Contrariamente à generalidade dos filiados partidariamente que partem constrangidos por outros interesses e ambições, desde logo pela prossecução de uma carreira político partidária que eventualmente os possa alcandorar à Assembleia da República, enquanto deputados, ou mesmo ao Governo da Nação, enquanto secretários de estado ou mesmo ministros. O que, não raras vezes, se tem traduzido em espetáculos pouco dignificantes, com os candidatos partidários que já são titulares de cargos políticos a saltarem de cadeira em cadeira, em pleno mandato, com desprezo pela melhor gestão e dignidade dos organismos autárquicos, que deveriam assegurar, em qualquer caso e antes que mais. Este é um domínio em que a quebra da hegemonia partidária, ainda que diminuta, se tem revelado francamente positiva pelo que desejável será que se aprofunde e se alargue aos próprios actos eleitorais para a Assembleia da República, se a tanto chegar a generosidade democrática dos partidos dominantes. Havemos de concluir, por tudo isso, que as candidaturas de grupos de cidadãos sem filiação partidária devem ser incentivadas, para bem da Nação e da Democracia, na certeza de que, tudo o leva a crer, merecerão especial atenção dos eleitores, por mais que desagrade aos partidos dominantes.  As candidaturas eleitorais independentes constituem, sem dúvida alguma, uma forte e desejável alavanca democrática, sobretudo nas actuais circunstâncias de descrédito dos partidos. Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico. Vale de Salgueiro 26 de junho de 2025 https://henriquepedro.blogspot.com/ Henrique Pedro

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Os loucos do poder

Sentam-se à mesa, mas ninguém quer comer porque o prato servido não se consegue engolir. São os loucos do costume. Não se falam, não se entendem e não querem a paz. Sentam-se à mesma mesa para quê? O Mundo está a assistir nos últimos dias a um crescendo gigantesco de ações de guerra e de nada mais se fala a não ser disso mesmo. Televisões e jornais de todos os países passam o tempo a referir, quase ao minuto, o que se passa no Médio Oriente e na Ucrânia. É uma loucura pegada. Israel insatisfeito com as atrocidades que está a levar a cabo na Faixa de Gaza, resolveu alastrar a guerra ao Irão com a desculpa de que este está quase a obter urânio enriquecido suficiente que lhe poderia permitir fazer bombas nucleares. Sabemos bem que essa desculpa não é a única para declarar guerra ao Irão. Apesar de haver razões várias para acusar o Irão de apoio belicoso a grupos como o Hamas, o Hezbollah e os Houties, o certo é que pouco mais fazia além disso, mesmo que isso já fosse demasiado. Mas Israel tinha que agir com esse propósito. Apoiado pelos EUA, Netanyahu sentia-se à vontade para agir contra a ditadura do Irão. E foi o que fez. Contudo, Netanyahu para se manter no poder, tem de dar aos israelitas essa noção de poder e de força superior, fazendo com que os partidos que suportam o governo se mantenham unidos. É um objetivo comum e que interessa ao primeiro-ministro, pois quando isso deixar de acontecer, corre o risco de sair do governo, ser julgado e ir preso. Deste modo, Netanyahu tem de manter o país em guerra constante alicerçando o seu discurso na defesa do país contra os que são inimigos de Israel. Se o Irão tivesse uma bomba atómica, Israel corria um sério perigo e isso não pode acontecer. Para Trump isso interessa, pois Israel é um dos seus aliados mais fortes no Médio Oriente e é ali que estão grandes interesses económicos e bases militares americanas. Assim, os EUA continuarão a ajudar Israel até conseguir os seus objetivos. Esta comunhão de interesses sustenta esta guerra, ainda que se diga constantemente que se deve negociar a paz. Contudo, Trump refere-o, mas pede uma rendição incondicional do Irão o que implica não continuar o enriquecimento de urânio. Mas a solução não é fácil. O líder do Irão não cede a chantagens e não quer conversações quando se vive em guerra constante. A não ser que Israel acabe com a guerra, o Irão não se senta a mesa das negociações. No entanto, não se deve subestimar o poder do Irão. Apesar de Israel controlar os céus do Irão, isso não significa que este não cause muitos estragos em Israel, como aliás se tem visto. É uma guerra a que Israel não estava habituado. Estamos perante três loucos compulsivos que, ambiciosos de mais poder, não se importam com as vidas que dizimam e com o que destroem. Muito embora Trump encha a boca com “as mortes que acontecem” em Gaza, na Ucrânia, na Rússia, na Síria, no Líbano e agora no Irão e em Israel, ele vai enviar uma Task Force para o Médio Oriente e soldados integrados em missões especiais que se desconhecem. Vai acabar por acontecer uma intervenção dos EUA neste conflito, mesmo que no seu programa eleitoral, Trump tenha dito que iria desviar a América dos conflitos e guerras que não eram as suas. Já estamos habituados às ambiguidades de Trump. Como se pode ser tão louco e insensível? Pelo menos mandou fechar a sua própria Embaixada em Jerusalém. Sabe, com toda a certeza, o que vem pelo caminho, face às ameaças do Irão. Para os EUA, esta guerra não é desnecessária, perante a possibilidade de o Irão conseguir ter armas nucleares. Seria demasiado perigoso, até mesmo para a Europa. Por enquanto, Trump vai aguardar mais um tempo para que a diplomacia funcione entre os beligerantes. Há fragilidades de parte a parte e pode ser que funcione. Vimos como o escudo de defesa de Israel também é falível. O Irão conseguiu entrar e destruir bairros em Haifa, Telavive e Jerusalém. Os israelitas contabilizam já algumas dezenas de mortes e muitas mais vão acontecer certamente. O Irão é demasiado grande para se dominar em pouco tempo. Terá de haver uma insurreição de dentro para fora que seja capaz de derrubar o poder dos Aiatolas de modo a levar o país a uma alteração de regime, talvez uma democracia. Fácil não é. A grandiosidade da antiga Pérsia não voltará tão depressa. Mas esta guerra tem uma componente surreal. É que antes de atacarem, avisam o país inimigo quando e onde vão cair os mísseis. Claro que isto evita muitas mortes, mas não deixa de ser caricato. Parece um jogo de crianças que só acaba quando um dos contendores ficar sem munições. Identicamente acontece na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Putin não quer perder a face embora esteja com dificuldades óbvias, mas desistir não é seu feitio. No entanto, continua a estar disponível para negociar a paz, mas não quer perder o poder que tem dentro da Rússia e, talvez, fora dela. Manter o carisma de segunda grande potência mundial, é primordial. Mas do outro lado, o invadido, também não cede e com razão, às exigências de paz que Putin impõe na mesa de negociações. Demonstrações de poder de loucos que, sendo loucos, não se apercebem da tamanha loucura que teimam em manter. Entretanto, nas ruas de Teerão, de Telavive, de Haifa, de Kiev ou de Odessa, continuam a ouvir-se gritos de quem tudo perdeu sem culpa das ambições dos loucos do poder. Luís Ferreira

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DO ESCRAVO E DO SEU SENHOR DO CRISTÃO, DO ÁRABE E DO JUDEU

“Não há puro sangue, em Portugal”. Disse-o Lídia Jorge e repetiu-o Marcelo Rebelo de Sousa, em Lagos, no passado dia 10 de junho na celebração do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A escritora e conselheira de estado, presidindo às comemorações do feriado nacional começou, precisamente, por ser referir à lusitana particularidade de ter escolhido como data para celebração da sua nacionalidade, o dia da morte de um poeta, o maior de todos os que escreveram na materna língua portuguesa, rejeitando qualquer intuito melancólico, muito pelo contrário, resultará da vontade de exaltar quem, pela sua obra e, inclusive, pelo seu percurso de vida, revelou a “nossa peregrinação prometeica sobre a terra”. Essa epopeia que Luís Vaz de Camões exaltou de forma sublime tendo em Sagres o lugar geométrico da sua narrativa, à data em que foi concebida, tem igualmente, em Lagos, um ponto de referência no prosseguimento da aventura portuguesa pelo mundo. Porque se o árabe tinha chegado à Península, no século VIII por sua iniciativa, invadindo-a, conquistando-a e aculturando-a, os africanos que aportaram a Lagos, após a epopeia das descobertas foram aprisionados na sua terra e trazidos à força para serem escravizados, comercializados e explorados. E por cá ficaram, todos, misturando-se com os lusitanos, os visigodos e os celtas, que por aqui andavam já há vários séculos e com os judeus da diáspora e da expulsão castelhana, bem como com os muçulmanos cuja presença ganhara já foros de nacionalidade. Como pois será possível reclamar a legitimidade da expansão marítima, ao ponto de recusar qualquer devolução de putativos roubos e apropriações culturais das terras onde as nossas caravelas aportaram há cinco séculos e ignorar a presença de mais de um milénio de quem, independentemente de quaisquer laivos nacionalistas veio trazer alguma luz à escuridão que a Ida- de Média lançara sobre toda a Europa. Permita-me o leitor uma citação: “Não devíamos sentir-nos envergonhados por apreciar a verdade e recolhê-la seja de onde for que ela venha, mesmo que venha de raças distantes e nações diferentes das nossas”. Este pensamento, apesar da sua evidente contemporaneidade, tem mais de um milénio. Foi enunciado por Al-Kindi, um filósofo árabe do século IX mas não perdeu nem valor nem atualidade. Poderia ter sido proferido por qual- quer dos oradores do 10 de junho em Lagos. A universalidade dos bons valores não tem idade nem pátria e todos nos podemos (devemos) rever e sentir herdeiros da sua formulação. Casa bem com o que Lídia Jorge proferiu, a dado momento: “Cada um de nós é uma soma. Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas”. É isso que eu sou e assim me sinto. Tão herdeiro do longínquo filósofo oriental como da próxima e contemporânea escritora algarvia. Do judeu vindo de Jerusalém, ou expulso de Toledo e do cristão que o acolheu e do que o queimou em autos de fé, do árabe proveniente de Bagdad ou de Granada e do ibérico que o combateu ou com que se miscigenou, do africano capturado na costa africana ou traficado na Feitoria da Mina e do continental que o escravizou ou que com ele pacifica e fraternalmente conviveu. Se a língua é a nossa pátria, são meus concidadãos não só os que a falam mas sobretudo os que partilham os valores e ideias de humanidade. José Mário Leite

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Governar é assunto demasiado sério para ser deixado nas mãos de políticos profissionais

Portugal não está em guerra, felizmente, ainda que violentos conflitos armados grassem por perto, dentro do seu próprio espaço vital democrático. Portugal não está em guerra, mas é como se estivesse, porque desde há bastante tempo a esta parte, demasiado dir-se-á, que vem sofrendo os malefícios próprios de tempos de guerra, como sejam atrasos sistemáticos no crescimento económico (mesmo sem o esforço de rearmamento que agora se projecta), redução drástica da sua população nativa e residente, emigração de milhares dos seus filhos e empobrecimento inaceitável de grande parte da Nação. Há mesmo quem considere, de igual forma, a significativa perda de soberania resultante da adesão à agora denominada União Europeia, ainda que, no meu entender, esta seja aceitável e positiva, desde que colocada em pé de igualdade com os demais parceiros, como se tem verificado. Dir-se-á, portanto, que os políticos portugueses têm vindo a governar Portugal como se este estivesse em guerra, ainda que de facto o não esteja, tantas e tão sérias são as crises em que sistematicamente enredam o Estado. Georges Clemenceau, primeiro-ministro francês do tempo da Primeira Grande Guerra, proferiu, na altura, uma frase que ficou célebre e que passo a citar: “A guerra é um assunto demasiado sério para ser deixado nas mãos dos militares”. Ideia que recrio, com a devida vénia, adaptando-a à situação de crise sistemática em que o regime político português se afunda: “Governar um país é um assunto demasiado sério para ser deixa- do nas mãos de políticos profissionais”. A verdade é que, lamentavelmente, a esmagadora maioria dos portugueses tem andado alheada da governação, deixando o seu destino exclusivamente nas mãos de maus políticos profissionais o que, quanto a mim, está na base do larvar desastre nacional. O elevado número de abstencionistas, entendidos como todos aqueles que, voluntariamente, se privam ou desistem de direitos políticos, cívicos ou sociais fundamentais, com destaque para o sagrado direito de votar em todos os actos eleitorais, que também é um dever inalienável é, por isso, a todos os títulos condenável. Ainda que, quanto a mim, as explicações para este insucesso sistemático devam ser pro- curadas no quadro do Regime Político vigente que, como se sabe, está inexoravelmente ferido da hegemonia partidária, que promove a baixa qualidade dos políticos e a pobreza da vida política nacional, o aviltamento da Justiça, a ineficiência dos Serviços Públicos e a corrupção generalizada. Os resultados estão à vista de toda gente, por mais que os políticos se esforcem por disfarçá-los! Não basta que os cidadãos votem quando e como os políticos entendem. É-lhes exigido mais! Devem ir mais fundo na defesa dos seus direitos, começando por reclamar o fim dessa fatídica hegemonia partidária, por forma a que também cidadãos independentes possam concorrer, em eleições legislativas, em pé de igualdade com os partidos, como já o podem e devem fazer, agora com mais força, nas eleições autárquicas, o que tão positivos resultados tem dado. Sobretudo agora que os políticos mais afamados enchem a boca com reformas, cada um tentando mostrar ser mais reformador que o outro, muito embora coloquem de lado a indispensável Revisão Constitucional, tenha ela que amplitude tiver, o que não deixa de ser significativo e muito estranho. É que, sem uma adequada Revisão Constitucional também as indispensáveis reformas do regime que dela dependem, com sejam a Justiça, a Regionalização, a Lei Eleitoral e Autárquica, e tudo que tem a ver com o eficaz combate à corrupção, não terão sentido. Isto demonstra que as reformas que os políticos projectam são as useiras e vezeiras injecções de dinheiros no aparelho de Estado, abrindo portas a mais empregos para amigos e correligionários e às emblemáticas negociatas regimentais, que tanto têm prejudicado o país. A possibilidade de cidadãos independentes, isolados ou associados, também poderem concorrer, em eleições legislativas, espontaneamente, em representação dos círculos eleitorais a que pertencem, sem a obrigatoriedade de se constituírem ou espuriamente militarem em partidos políticos, é a mola real para salvação da democracia e o progresso nacional. Sabemos bem que é isto que os políticos profissionais não querem, nem permitem que aconteça. Contudo, não devem os portugueses perder a esperança de que, fruto das circunstâncias eleitorais e quando me- nos se espera, alcancem o poder governantes verdadeiramente reformadores, patriotas e democratas. Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico. Vale de Salgueiro 12 de junho de 2025. https://henriquepedro.blogspot. Henrique Pedro

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...Que as há, há

Na rua, empurrada pelo vento, cruzou-se comigo aquilo que pareceu ser uma qualquer folha de jornal. Tudo o que consegui ler foi um título: ”Eu acredito em bruxas”. “Eu também”, atirei eu ao pedaço de papel, que seguiu caminho, para continuar a espalhar a mensagem. Eu acredito em bruxas? Bem, e em muito mais. Porque é mais fácil ser crente do que céptico. Por que não valorizar que possam existir trasgos, olharapos, fadas ou anjos? Para acreditar na potencialidade daquilo que nos rodeia não precisamos de encontrar argumentos contra, o que poupa energia. Basta, somente, confiar que há sempre mais à nossa volta do que aquilo que o nosso conhecimento alcança. “A realidade supera sempre a ficção”, acrescento ao meu título. Isto é algo como dizer que, por esse mundo fora, já há de um tudo, assim, naturalmente, e que nós, seres humanos, apenas precisávamos de ver mais além, às vezes combinar corretamente, qual cubo de Rubik. Há um debate que gosto de ter, de longe a longe, que é o seguinte: ”Qual a maior invenção da humanidade?”. Muitos dirão que ainda estará por vir, com isto da Inteligência Artificial. Eu, como crente que sou, só que com traços de céptica incurável, acredito que o que era inovador já foi descoberto e/ou inventado – a saber, na minha lista, a roda, levar água até às civilizações, a máquina a vapor, a luz elétrica, a penicilina e o papel higiénico. A partir de uma certo ponto, que não quero estar aqui a marcar porque não sou académica, aquilo que tem vindo a acontecer são aperfeiçoamentos do que já existe, é o refinar ao olho atual, usando as tecnologias e os conhecimentos que foram sendo acumulados ao longo de dias, anos, séculos e milénios. Quem foi a primeira pessoa que percebeu que comer ovos é fixe? Quantas morreram para catalogar todas as bagas venenosas que há no mundo (e algumas plantas com efeitos recreativos)? Quanto tempo livre teria quem se lembrou de empilhar pedras em bico? Qual o Q.I de alguém que começa a discutir o conceito de política e de organizações de sociedades? Por isto tudo, acredito embruxas, trasgos, olharapos, fadas ou anjos, e em tudo mais o que ainda não consegui ver. Ainda! Porque há sempre algo que nos foge, graças a deus. É desta forma que vale a pena viver cada dia, para aprender um bocadinho mais em busca de novidade. Até morrer. Ou, quem sabe, depois disso também não haja descanso. Tânia Rei

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O que se serve ao jantar quando os loucos se sentam à mesma mesa?

É difícil escolher e decidir uma ementa que agrade a todos. Mais difícil é engolir o prato que se serve. Ainda mais custoso é se os loucos são mesmo loucos e não estão dispostos a comer seja o que for. A segunda ronda de negociações entre emissários russos e ucranianos que teve lugar na Turquia, sentou à mesma mesa, pessoas que não se suportam e que á partida, deveriam tentar engolir o prato demasiado temperado que colocaram em cima da mesa. Não passaram das entradas. Não engoliram mais nada e deixaram na mesa a sobremesa, pouco apetitosa, que certamente se estragará até ao próximo jantar. Talvez por ser demasiado agreste para engolir as sobras deixadas na mesa pelos loucos russos, os ucranianos resolveram mostrar que não deveriam ser ignorados e serviram uma sobremesa surpresa aos russos, deixando-os de boca aberta. Engoliram em seco. A verdade é que ninguém esperava que tal sucedesse. Foi uma vitória extraordinária e bem estruturada. Dias antes, os loucos russos que não se serviram dos aperitivos que lhes foram servidos, devem ter pensado que mal fizeram não o terem feito. Longe, do outro lado do Atlântico, o senhor americano também ficou surpreendido e sem palavras. A verdade é que foi ultrapassado e bem. Quem quer fazer, faz, não leva nem trás. Mas este louco nunca se sentou à mesa com os outros. Ainda anda em busca de apetite. A Putin custou-lhe engolir o prato venenoso que a Ucrânia lhe serviu e por isso resolveu retaliar com o que tinha mais à mão. Sem estratégias estudadas, mandou enviar mísseis e drones sobre o território ucraniano. Uma dinâmica de guerra em que Putin aposta, bem distante do cessar-fogo ou da paz que tanto apregoa, numa ladainha de entretenimento infantil, que faz lembra os jogos de PlayStation. Mas a realidade é diferente e morrem muitas pessoas. Muitas crianças. Incapazes de qualquer sentimento, tanto Putin como Trump, continuam a jogar com a vida dos outros, esperando que os contendores se cansem e cheguem a um ponto em que tenham de negociar a paz. Não será fácil. A Europa não pode deixar que a Ucrânia perca a guerra. A América é da mesma opinião, mas Trump está demasiado longe e como não lhe toca na pele diretamente, também não lhe dói. Está a nascer uma economia de guerra na Europa o que não agrada nada à Rússia. Esta está a ficar com os seus efetivos militares, tanto exército como armamento, muito desgastados. Quase sem aviação de guerra, sem tanques e com soldados inexperientes, vê-se cada vez mais sem tempo e sem possibilidades de ganhar a guerra. Assim, vai tentando adiar o cessar-fogo e a paz, com a apresentação de Memorandos inaceitáveis e com reuniões de loucos à volta de uma mesa onde nada é servido que interesse à Ucrânia ou lhe abra o apetite. Mas a Rússia sabe que nada disso seria aceite pela Ucrânia. É tudo uma perda de tempo que só interessa a Putin. Ao mesmo tempo engana os ucranianos e Trump que ainda acredita que consegue obrigar Putin a engolir um dos pratos que são servidos à mesa na Turquia. Eles nem devem gostar dos pratos turcos! Mas a curiosidade é que o Presidente americano está agora a ser atacado pelo seu grande amigo sul-africano Elon Musk. Fora da administração Trump, Musk ficou muito aborrecido e resolveu atirar-se contra o Presidente, dizendo que foi à sua custa que foi eleito, pondo a descoberto mais umas quantas realidades que, a serem verdade, podem pôr Trump em maus lençóis. E por falar em lençóis, uma das setas apontadas por Musk, revela algo relacionado com abusos sexuais e pedofilia. Será? Parece mais uma zanga de garotos num jardim infantil do que outra coisa. Bem, também Musk é acusado do consumo de drogas durante a campanha a par deoutras asneiras graves. Como diz o povo, zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. A realidade é que eles se zangaram e não se falam. Trump ameaça retirar os subsídios às empresas de Musk e este diz que o projeto do presidente é uma aberração. A Rússia, sempre atenta a estas desavenças e, mesmo em jeito de brincadeira, tenta retirar dividendos e, nesse sentido, não se importa de dar asilo a Musk em troca de ações da Starlink. Os loucos nem sempre se entendem, mas... nunca se sabe. Isto está a servir para desviar as atenções americanas da guerra da Ucrânia, o que até convém a Trump e a Putin. Não há notícias, não há interesse, não há decisões, nem mais jantares de loucos, pelo menos para já. Mas como esta rixa de garotos pouco interessa à Europa, esta continua a viver momentos de incerteza, já que Trump não toma decisões, sejam a favor ou contra. Aliás, estamos habituados a que ele diga uma coisa hoje e amanhã o seu contrário. Na União Europeia continuam a sentar-se à mesa, não os loucos, mas os interessados na obtenção de um plano de paz para a Ucrânia. É o único prato que se serve e que quase todos apreciam. Continua a faltar servir a sobremesa. Esta, só será boa se for uma cereja no cimo de um bolo que se chame paz. Quem o irá cozinhar? Luís Ferreira

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A grande lição democrática do último acto eleitoral

Diziam badalados especialistas na matéria, politólogos, analistas ou simples comentadores, sobretudo políticos de profissão a quem o status quo beneficiava, que não era necessária nenhuma revisão constitucional. Eu sempre disse que sim, que era, tantos os escândalos e fracassos de toda a natureza, que ininterruptamente afectavam, e continuam a afectar, o actual Estado republicano, também justamente designado por Terceira República que, como se sabe, foi abusivamente deformada, à nascença, pelo Processo Revolucionário em Curso de má memória, que desencaminhou o golpe militar libertador de Abril de 1974. Factos que os portugueses ainda não esqueceram. Terceira República que foi antecedida por duas outras, como é óbvio, sendo que a Primeira, implantada pela revolução de 5 de Outubro de 1910, durou apenas 16 anos, marcados por constantes convulsões sociais e inúmeros crimes civis e políticos, até terminar, abruptamente, com o golpe de estado de 28 de Maio de 1926, que implantou a Ditadura Militar primeiro, depois Ditadura Nacional e Estado Novo, mais amigavelmente designado como Segunda República, por fim. Convém ainda relembrar que durante a curta vigência da Primeira República foram constituídos sete parlamentos, oito presidentes da República, 45 governos, 40 chefias de governo, duas presidências do Ministério que não chegaram a tomar posse, dois presidentes do Ministério interinos, uma Junta Constitucional e uma Junta Revolucionária, para lá de tudo o mais que os anais registam e seria exaustivo aqui enumerar. Desejável será, portanto, que esta página negra da História Pátria se não repita e que a controversa ética republicana que a inspirou, e que muitos continuam a evocar a despropósito, deixe, definitivamente, de assombrar a Terceira República do presente, que se pretende democraticamente modelar. Para tal, torna-se urgente e necessário não apenas lavar a cara ao regime político vigente, mas cercear-lhe os maus instintos constitucionais, reformando tudo que deve ser reformado, o que implica uma profunda revisão da Constituição em vigor, ainda que não orientada por conveniências partidárias, o que seria lamentável se tal viesse, de novo, a acontecer. Esta é, em mau entender, a lição democrática maior que importa retirar do surpreendente acto eleitoral do passado dia 18 de Maio, no qual o eleitorado, de forma muito clara, condenou o conúbio imoral dos dois partidos que nos últimos 50 anos se revezaram no poder, monopolizaram o Estado em proveito próprio e privilegiaram clientelas e obscuros interesses particulares, com evidentes prejuízos da Nação, como da pior forma o ilustram os indicadores mais significativos, com destaque para os que se referem à pobreza, à justiça social, aos níveis salariais, ao mau funcionamento de serviços públicos fundamentais e aos atrasos de Portugal, generalizados e persistentes, relativamente aos seus parceiros na União Europeia. Urge, por isso, concertar e levar a efeito as reformas indispensáveis, tão profundas e alargadas quanto possível, agora que, para tal, parecem estar reunidas adequadas dinâmicas democráticas e parlamentares, ainda que persistam ameaças de instabilidade política e governativa e, o que é mais grave, predisposições para restabelecer o anterior status quo bipartidário. Reformas que, o ideal será, comecem por banir a hegemonia partidária viciadora da verdade democrática, fonte inesgotável de amiguismos e nepotismos e viveiro de políticos incompetentes e desonestos. Porque os governos, as câmaras municipais e as freguesias não são apêndices partidários, nem os ministros ou os autarcas são eleitos para servir os partidos em que militam e muito menos interesses privados de caciques e quejandos. Assim sendo, grupos espontâneos de cidadãos também devem poder participar, em pleno, na vida política, designadamente concorrendo às eleições legislativas em pé de igualdade com os partidos, não lhes sendo apenas reconhecido o direito de se manifestarem nas ruas quando a miséria aperta ou o escândalo rebenta. Reformas que estabeleçam o eficaz combate à corrupção, que garantam a real justiça e paz social, que apurem o Sistema Nacional de Justiça e a Administração Pública, que ponham termo à promiscuidade dos poderes constitucionais e uma nova lei eleitoral que, de uma vez por todas, prestigie e consagre a democracia. Sem esquecer a Regionalização que, a acontecer, deverá garantir maior equidade e eficiência no investimento público e no desenvolvimento do todo nacional, começando por uma indispensável revisão do medieval Ordenamento do Território em vigor. Oxalá que os políticos a quem os resultados eleitorais sorriram, e não só, demonstrem ter suficiente patriotismo e civismo para tal e capacidade bastante para gerar os indispensáveis consensos democráticos.  Henrique Pedro

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REFLETIR E AGIR

Então, e agora? Pois bem, valendo o que vale, no meu entendimento, agora restam apenas duas tarefas: entender o que se passou e agir em conformidade. Apesar do muito que já foi dito e escrito, não me parece que haja forma de escapar ao que se tornou evidente: o descontentamento, a indignação e a revolta dos mais fracos que, tradicionalmente alimentaram e fortaleceram os partidos de esquerda deixou de encontrar aí o abrigo e conforto e passou a ser magistralmente usado pela extrema-direita como adubo eficaz das sementes da intolerância plantadas na injustiça e enxertadas na imunidade de alguns poderes, assentando aí o seu programa de protesto para atacar o regime democrático, paradoxalmente, mais do que na organização e direitos políticos, querendo destruí-lo nas questões sociais, na solidariedade e na proteção dos mais desprotegidos. E a realidade deu-lhes uma ajuda. Paulo Raimundo e os dirigentes do PCP não podem estranhar terem perdido o apoio das dezenas de milhar dos trabalhadores desfavorecidos que a somar aos sacrifícios diários se tenham deparado com a infernização de uma greve dos transportes e que apenas a eles prejudica, organizada por um sindicado apoiado pela estrutura comunista que, inclusive, colocou nas listas para a Assembleia da república o seu mais destacado sindicalista. Por idênticas razões, só por exagerada ingenuidade Maria Mortágua poderia esperar ter o voto daqueles que, oportunamente, acompanhou, de madrugada, na sua penosa jornada diária em busca da subsistência do dia a dia com enormes sacrifícios e abnegação mas a quem abandonou, nos dias da tal greve, atrás referida, sem uma única palavra de conforto e muito menos qualquer condenação, por mais tímida ou leve, para quem se recusou a transportá-los para os longínquos e necessários locais de trabalho. E o que dizer de quem espera e desespera, nas urgências dos Hospitais, sobretudo aqueles que, fruto de competentes PPPs, funcionavam bem e agora não conseguem dar uma resposta satisfatória aos utentes quando, apenas por uma questão ideológica, voltaram a ter gestão pública? António Costa entendeu bem que, tendo-se apoiado à esquerda para ascender ao governo da Nação, a ideologia que lhe estava a ser imposta, de pouco valia se não se traduzisse em atuação prática e, sobretudo, pragmática. Por isso, logo que pode, começou a afastar-se da linha original e, com isso, alargou a base eleitoral chegando à maioria absoluta. Pedro Nuno, pelo contrário, entendeu que era altura de “fazer render” os créditos alcançados na bem-sucedida negociação da geringonça e… arrastou o seu partido para o conhecido descalabro. Outros argumentos poderiam ser avocados para justificar (se mais justificações fossem necessárias) para entender a escolha do eleitorado no passado dia 18. Mas, entendê-la, não quer dizer que se tome como boa. Respeitando, obviamente, a escolha eleitoral, é tempo de abrir trincheiras e combater, de forma democrática e racional as soluções que, alavancando-se no medo, na falsidade e na deturpação de realidade percetível, apelam ao ódio, à intolerância, ao xenofobismo e ao racismo, usando a demagogia e o endeusamento de quem, falsamente, a todos promete a esperada bem-aventurança. José Mário Leite

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