Briefing: Crise na habitação

O aumento sustentado dos preços da habitação e das rendas, confirmado por dados oficiais, agrava a crise de acessibilidade, afetando particularmente jovens e trabalhadores deslocados nos principais centros urbanos e tornando a habitação um desafio social e económico central.

A habitação tornou-se um tema central e decisivo nas eleições autárquicas de 2025, com candidatos dos principais partidos a apresentarem propostas concretas para resolver a falta de casas acessíveis, refletindo a elevada prioridade do problema para os eleitores em todo o país.

Especialistas identificam a reduzida percentagem de habitação pública (2%) como uma falha estrutural crítica, resultante de décadas de subinvestimento, que deixa o Estado com uma capacidade limitada para regular os preços de mercado e responder eficazmente à crise de acessibilidade.

A estabilização das taxas de juro do BCE está a trazer previsibilidade à Euribor, influenciando diretamente o mercado de crédito à habitação ao tornar os novos empréstimos mais atrativos e ao proporcionar algum alívio às famílias com contratos de taxa variável.

A crise habitacional criou uma escassez aguda de alojamento para estudantes e profissionais deslocados, com rendas proibitivas em cidades como o Porto e regiões como o Algarve, ameaçando o acesso à educação e a colocação de trabalhadores essenciais.

O compromisso do Governo em finalizar o inventário dos imóveis do Estado até 2026 representa uma iniciativa política fundamental para combater a crise da habitação, visando aumentar a oferta através da reconversão de edifícios públicos não utilizados para o mercado habitacional e de arrendamento.

Para além dos preços elevados, o mercado de arrendamento em Portugal é caracterizado por desafios significativos, incluindo exigências contratuais rigorosas, custos iniciais elevados com cauções e uma regulamentação complexa, criando um ambiente difícil tanto para inquilinos como para senhorios.

A crise da habitação está a impactar severamente o bem-estar e as escolhas de vida dos jovens portugueses, com o elevado custo de vida a ser identificado como uma grande fonte de ansiedade, limitando o acesso ao ensino superior e à independência financeira.

A aquisição e reabilitação de edifícios históricos e abandonados para novos projetos residenciais e hoteleiros em cidades como Lisboa, Silves e Matosinhos assinala uma forte tendência de investimento na regeneração urbana, visando aumentar a oferta e, ao mesmo tempo, preservar o património.

O estudo da Pordata oferece um retrato abrangente das desigualdades municipais em Portugal, destacando a concentração populacional e os elevados custos da habitação em cidades costeiras como Lisboa, em contraste com um interior envelhecido e de baixa densidade, definindo os principais desafios para as próximas eleições autárquicas.