Briefing: Crise na habitação

A atualização das rendas prevista para 2025, que poderá atingir 2,2% com base nos dados da inflação, intensifica a crise de acessibilidade à habitação em Portugal.

Este aumento legal agrava a pressão financeira sobre as famílias, especialmente nas áreas urbanas, e sublinha a urgência de políticas habitacionais mais robustas para equilibrar o mercado de arrendamento.

As juventudes partidárias portuguesas estão unidas no diagnóstico da crise habitacional como um entrave à emancipação dos jovens, mas divergem nas soluções.

As propostas vão desde o reforço do parque público e controlo de rendas, defendidos pela esquerda, até à liberalização do mercado e incentivo à construção, propostos pela direita, espelhando o debate ideológico nacional sobre o papel do Estado no setor.

Nas eleições autárquicas de 2025, a habitação é um tema central, com os candidatos a focarem-se em soluções locais para a crise nacional.

Propostas como a construção de 400 casas a preços acessíveis em Ovar (BE) e o combate à gentrificação em Coimbra (CDU) ilustram a crescente importância do poder local na criação de políticas habitacionais concretas.

Investimentos privados que ultrapassam os 74 milhões de euros estão a impulsionar a construção de mais de 500 novas unidades residenciais no Seixal e em Sines.

Projetos como o Upon Harbor e o Brisa Mar são uma resposta direta à crescente procura habitacional nestas zonas de forte expansão económica, visando aumentar a oferta para trabalhadores e novos residentes.

Para combater os elevados custos de alojamento, o Turismo de Portugal vai atribuir um apoio financeiro mensal aos alunos da sua rede de escolas. A medida, que inclui também alimentação gratuita, visa garantir a igualdade de oportunidades e apoiar a formação de profissionais num setor estratégico para a economia nacional, mitigando os efeitos da crise habitacional.

A evolução mista das taxas Euribor, com a subida do indexante a seis meses, continua a gerar incerteza para as famílias com crédito à habitação de taxa variável.

Esta instabilidade, reflexo da política monetária do BCE, mantém a pressão sobre as prestações mensais e afeta diretamente a acessibilidade ao mercado imobiliário em Portugal.

As receitas da taxa turística atingiram um recorde de 65 milhões de euros no primeiro semestre de 2025, quase duplicando o valor do ano anterior. Este aumento, impulsionado por mais municípios a aplicarem a taxa e por subidas nos valores cobrados, acentua o debate sobre o impacto do turismo na crise da habitação e a necessidade de usar estas verbas para mitigar os seus efeitos negativos.

O mercado de imobiliário comercial em Portugal registou um crescimento de 78% no segundo trimestre de 2025, tornando o país um dos destinos de investimento mais atrativos da Europa.

Este dinamismo, embora positivo para a economia, pode ter implicações no mercado residencial, influenciando a confiança dos investidores e os preços dos terrenos.

O setor da construção cresceu 2,9% em junho, com aumentos no emprego e salários, um sinal positivo para a oferta de habitação. Contudo, a sua estrutura, dominada por microempresas (93% do total), pode limitar a capacidade de resposta em larga escala necessária para mitigar eficazmente a crise habitacional em Portugal.

A crise de habitação acessível em Portugal é confirmada por um relatório da Remax, que indica que menos de 16% dos imóveis no mercado custam até 150 mil euros.

Esta escassez, que afeta principalmente a classe média e os jovens, transformou o tema numa prioridade política, com apelos a uma ação conjunta entre os setores público e privado para aumentar a oferta.